terça-feira, 19 de março de 2013

Artigo de Opinião Março 2013, Semanário da Região Bairradina

 
1.Nem mais tempo, nem mais dinheiro”: quantas vezes ouviram estas palavras do Primeiro-Ministro? Quantas vezes ouviram o Ministro das Finanças dizer que estamos “no bom caminho”, a cumprir “integralmente” as metas do Programa de Ajustamento (sucessivamente revisto)? Quantas vezes se depararam com o silêncio do Presidente da República?
Após as manifestações populares de 2 de Março, Cavaco Silva declarou que “o  protagonismo mediático do Presidente da República é inversamente proporcional à sua influência”, que “Ninguém foi primeiro-ministro durante 10 anos (além dele)” e que sabe “muito bem que um Presidente da República que busca protagonismo mediático não tem influência sobre o Governo”; ainda foi dizendo que “Não devo fazer comentários públicos sobre o que diz este ou aquele governante” - o mesmo Presidente da República que perorava contra a “espiral recessiva” no início deste ano e que acusava José Sócrates de “deslealdade institucional”...
O INE publicou os dados do desemprego de Janeiro de 2013: 19% da população ativa encontra-se registada em Centros de Emprego, o que realmente corresponde a 23% de pessoas sem emprego, a metade da população jovem (não sendo ainda superior pois a parte de leão da emigração é de jovens entre 25 e os 29 anos!); uma crescente parte dessas pessoas não tem direito a subsídio de desemprego - e aqueles que o têm são sujeitos a uma contribuição especial...de 6%!
Qual a resposta do Primeiro-Ministro a este flagelo? Perante a exigência feita pelo Partido Socialista de aumento do salário mínimo nacional, para Passos Coelho quando um país enfrenta um nível elevado de desemprego “a medida mais sensata que se pode tomar é exactamente a oposta”, seja, REDUZIR o salário mínimo nacional! Enquanto os parceiros sociais negoceiam o aumento...
Silva Peneda, ex-Ministro do PSD, presidente do Conselho Económico e Social, afirmou que tal redução “não é uma forma para criar mais emprego...é um disparate do ponto de vista económico, do ponto de vista político e do ponto de vista social, não é factor decisivo para a criação de emprego de modo nenhum...O emprego só se cria se as empresas tiverem clientes...o salário mínimo não é uma forma nem uma política para criar mais emprego”, defendendo que “o desemprego só se pode combater com crescimento económico” - a via alternativa defendida pelo Partido Socialista há já 2 anos!
Na passada sexta-feita o binómio Gaspar/Moedas anunciou os dados macro-económicos na sequência da 7ª avaliação do Programa(s) de Ajustamento(s): taxa de desemprego de 18,2% este ano (e 18,5% em 2014), deficit das contas públicas de 6,6% em 2012, recessão de 2,3% em 2013, dívida pública correspondente a 123,7% do PIB em 2014, extensão de um ano para os cortes de 4 mil milhões de Euros na despesa (500 milhões já em 2013).
Tais dados traduzem um falhando TOTAL das previsões governamentais, um empobrecimento AGUDIZADO dos portugueses por ainda mais tempo e de forma mais severa!
Em Maio de 2011 o Governo previu um crescimento de 1,2% em 2013 - vai descer 2,3%!
A taxa de desemprego prevista pelo Governo para 2013 era de 13,3% - já se situa nos 19%! Tal significa mais 270 mil desempregados que o previsto, mais do que a população do Porto!
Não contentes com a vergonhosa situação a que arrastaram Portugal, os membros do Governo desdobram-se em ameaças veladas ao Tribunal Constitucional, entre a acusação de “força de bloqueio” (reavivando dizeres de Cavaco) e de politização de tal órgão - sempre deixando na penumbra o anúncio dos dados do 1º trimestre da execução orçamental nos dias 22/24 de Abril...
Se alguma dignidade restasse ao Governo, a demissão seria a única saída admissível; mas tal gesto é inimaginável: além do Governo viver num completo alheamento da realidade, crendo em um Portugal que se renova e melhora, insistindo na fórmula que nos trouxe a este ponto, é ainda sustentado pelas bancadas PSD/CDS-PP na Assembleia da República, apostadas em validar a ação governativa e a precarização, intencional, a que querem continuar a votar os portugueses!
Para quem julgava que era impossível atingir o grau de ridicularidade política do Ministro da Informação de Saddam (para quem os infiéis americanos estavam derrotados, quando se viam imagens dos seus tanques a invadir Bagdad), eis que Miguel Frasquilho, um dos baluartes parlamentares do PSD, eleva a fasquia: os terríveis resultados económico-financeiros anunciados devem-se ao fato de o Programa de Ajustamento (não o negociado pelo anterior Governo, porque já alterado 6 vezes pelo atual...) foi "mal desenhado" e continha "projeções com pouca adesão à realidade" - o PSD, liderado por Eduardo Catroga, negociou e definiu o original, passando a campanha eleitoral a clamar vitória por isso, o que diz tanto...
Mas Frasquilho tem mais “pérolas de sabedoria”: a "Troika pela 7ª vez fez uma avaliação positiva ao nosso desempenho no programa de ajustamento (qual das versões alteradas pelo PSD?), a "evolução na correção do défice foi significativa" e "Portugal descolou, penso que definitivamente, da Grécia"...
Como diria Einstein: além do Universo, também a falta de honestidade inteletual e ridicularidade são infinitas!
Perante todos estes dados, o intencional empobrecimento dos portugueses e a degradação pura das suas condições de vida, com os terríveis dados macro-económicos, que dignidade resta ao Governo e ao Presidente da República? Que legitimidade democrática continuam a invocar ter?
2. Gostaria de dirigir os votos de sucesso a Fernando Mendonça, cabeça de lista do Partido Socialista à Câmara Municipal de Estarreja: num Município no qual o PSD (com o CDS) governa com maioria absoluta, escolhido pela única concelhia socialista de Aveiro liderado por uma mulher (de e com qualidade!) e em franca expansão do número de Militantes, representou uma oposição política responsável, assente em projetos e propostas concretas, ativamente dialogante e envolvido com seus munícipes. Como os candidatos autárquicos e titulares de cargos públicos têm que ser!
3. A todos os leitores do Semanário da Região Bairradina, os sinceros votos de uma boa Páscoa; quão bom seria se representasse verdadeiramente uma passagem para uma fase melhor!