quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Bom 2009

A todos os leitores do blogue:
Que possam encontrar os raros momentos de felicidade que nos são permitidos enquanto seres finitos.
Que se aproximem dos e alcancem os vossos objectivos.
Que terminem todos os dias com a sensação de dever cumprido e ansiando um melhor amanhã.
Bom 2009

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Assembleia Municipal

Na Assembleia Municipal de hoje apresentei algumas propostas de execução orçamental na área da juventude e do ambiente.
Desde logo mostrando agrado pela apresentação de um projecto urbanistico (primeiro!) para Anadia, que colheu algumas das sugestões que havia apresentado, e enaltecendo a epifania do nóvel líder da concelhia do PPD-PSD no que toca à criação de um orgão consultivo da juventude, debrucei-me directamente sobre as propostas.
Num concelho que apresenta um crescente índice de envelhecimento, com diminuição dos nascimentos e aumento dos óbitos (patente em dados estatísticos do INE e na própria carta educativa); com a fuga de população, cada vez mais jovem, para os concelhos vizinhos; com a desertificação de algumas zonas do concelho, sobretudo da zona serrana, onde os nascimentos são uma miríade; com um município gozando de saúde financeira (afirmado pelo Presidente da Câmara e bancada parlamentar do PPD-PSD); valendo o triptíco mais população, mais imóveis, mais receita de IMI, foram apresentadas as seguintes propostas:
. redução do valor das licenças de construção para jovens (aliás, o aumento de receita do município em IMI compensará a redução destes valores);
. sendo intenção do executivo (a crer na existência de uma ideia de urbanismo, assente na construção de equipamentos desportivos e culturais) alargar a cidade de Anadia para o lado do Alto das Domingas/Curia, a venda de terrenos para construção, a preços acessíveis, a casais jovens, sempre com uma cláusula de permanência, evitando a venda dos terrenos por estes, com intuito meramente especulativo, pelo prazo de dez (10) anos;
. projectos de habitação a custo controlado, o que permitiria também o auxílio a sociedades locais de construção civil;
. atribuição de subsídio de incentivo à maternidade aos casais jovens a partir do segundo filho, com escalonamento crescente em função dos rendimentos do agregado familiar;
. aproveitando a riqueza geológica da zona serrana, criação de percursos pedestres e de desportos radicais, bem como de percursos geológicos, aproveitando a riqueza local nesta área, permitindo também o incentivo de um tipo de turismo de maior qualidade.
Foi deixado um apelo aos presidentes de juntas de freguesia presentes: a implementação de centros de compostagem a nível das freguesias, potenciando a reciclagem de materiais de poda e alimentares e a utilização de adubos ecológicos; a criação de hortos comunitários, reforçando o sentido de comunidade; a continuação da aposta no associativismo jovem.
Tendo sido dito pelo senhor Presidente de Câmara que, embora numa altura difícil, iria ser estudada a implementação de algumas das medidas propostas, esperarei novos desenvolvimentos.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Reabilitação urbana do centro de Anadia

Foi apresentado o plano, gizada nos gabinetes da Câmara Municipal de Anadia, que visa a reabilitação urbana do centro de Anadia.
Regozijo-me por, no âmago do projecto, terem sido abraçadas as ideias que publicamente apresentei: uma ideia de cidade, um espaço virado para a utilização dos cidadãos, congregando os serviços de atendimento ao público, com uma área de restauração e área verde.
Espero, também, que o executivo camarário seja aberto a propostas de melhoramento.
Anadia ganha com isso.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

HOJE É O MELHOR DOS DIAS!

É-o!

O ser mais belo, a mulher mais bonita, o Ser Maior.

Que enche plenamente de orgulho e alegria.

Que se ama.

Definitivamente.

Perto ou longe, de forma aberta ou reservada.

Obrigado, Pipoquinha!

Muitos Parabéns!!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Conseguirá Obama?

Decorre em Denver a Convenção Democrata, que visa a nomeação do candidato deste partido às eleições presidenciais americanas.
O escolhido no campo Democrata, após meses de estrénue discussão política (à maneira americana, com algumas jogadas de baixo nível e um escrutínio milimétrico dos passados e presentes dos diversos candidatos nas Primárias, de um e de outro partido), será Barak Obama, que escolheu como candidato a vice-presidente Joe Biden.
Ambos serão confirmados perante os delegados eleitos ao longo dos últimos meses, não sem alguma tensão, motivada pela "desistência que não o é" de Hillary Clinton: mantendo a chama acesa para uma possível escolha presidencial em 2012 (caso McCain vença este ano), o seu discurso, politicamente bem preparado, revelando dotes de oratória que os longos anos de sombra de Bill Clinton não permitiram conhecer no seu todo, era simultaneamente de agradecimento às centenas de apoiantes e delegados que estavam presentes e reforço da posição democrata na corrida eleitoral.
Eis o discurso de Hillary, na íntegra:
"I am honored to be here tonight. I'm here tonight as a proud mother. As a proud Democrat. As a proud senator from New York. A proud American. And a proud supporter of Barack Obama.
My friends, it is time to take back the country we love.
And whether you voted for me, or voted for Barack, the time is now to unite as a single party with a single purpose. We are on the same team, and none of us can afford to sit on the sidelines.
This is a fight for the future. And it's a fight we must win together.
I haven't spent the past 35 years in the trenches advocating for children, campaigning for universal health care, helping parents balance work and family and fighting for women's rights here at home and around the world . . . to see another Republican in the White House squander our promise of a country that really fulfills the hopes of our people.
And you haven't worked so hard over the last 18 months, or endured the last eight years, to suffer through more failed leadership.
No way. No how. No McCain.
Tonight I ask you to remember what a presidential election is really about. When the polls have closed, and the ads are finally off the air, it comes down to you -- the American people and your lives, and your children's futures.
For me, it's been a privilege to meet you in your homes, your workplaces and your communities. Your stories reminded me that everyday America's greatness is bound up in the lives of the American people -- your hard work, your devotion to duty, your love for your children, and your determination to keep going, often in the face of enormous obstacles.
You taught me so much and you made me laugh, and yes, you even made me cry. You allowed me to become part of your lives. And you became part of mine.
I will always remember the single mom who had adopted two kids with autism. She didn't have health insurance and discovered she had cancer. But she greeted me with her bald head painted with my name on it and asked me to fight for health care for her and her children.
I will always remember the young man in a Marine Corps T-shirt who waited months for medical care and he said to me: "Take care of my buddies; a lot of them are still over there, and then will you please take care of me?"
I will always remember the young boy who told me his mom worked for the minimum wage and that her employer had cut her hours. He said he just didn't know what his family was going to do.
I will always be grateful to everyone from all 50 states, Puerto Rico and the territories, who joined our campaign on behalf of all those people left out and left behind by the Bush administration.
To my supporters, to my champions -- to my sisterhood of the traveling pantsuits -- from the bottom of my heart: Thank you.
Thank you because you never gave in. You never gave up. And together we made history.
Along the way, America lost two great Democratic champions who would have been here with us tonight. One of our finest young leaders, Arkansas Democratic Chair Bill Gwatney, who believed with all his heart that America and the South should be Democratic from top to bottom.
And Congresswoman Stephanie Tubbs Jones, a dear friend to many of us, a loving mother, a courageous leader who never gave up her quest to make America fairer and smarter, stronger and better. Steadfast in her beliefs, a fighter of uncommon grace, she was an inspiration to me and to us all.
Our heart goes out to Stephanie's son, Mervyn Jr., and Bill's wife, Rebecca, who traveled to Denver to join this family of Democrats.
Now Bill Gwatney and Stephanie Tubbs Jones knew that after eight years of George Bush, people are hurting at home, and our standing has eroded around the world. We have a lot of work ahead.
Jobs lost, houses gone, falling wages, rising prices. The Supreme Court in a right-wing headlock and our government in partisan gridlock. The biggest deficit in our nation's history. Money borrowed from the Chinese to buy oil from the Saudis.
Putin and Georgia, Iran and Iraq.
I ran for president to renew the promise of America. To rebuild the middle class and sustain the American Dream, to provide the opportunity to those who were willing to work hard and have that work rewarded, to save for college, a home and retirement, to afford the gas and groceries and still have a little left over each month.
To promote a clean energy economy that will create millions of green-collar jobs.
To create a health care system that is universal, high quality, and affordable so that every single parent knows their children will be taken care of.
We want to create a world class education system and make college affordable again.
To fight for an America defined by deep and meaningful equality - from civil rights to labor rights, from women's rights to gay rights, from ending discrimination to promoting unionization to providing help for the most important job there is: caring for our families. And to help every child live up to his or her God-given potential.
To make America once again a nation of immigrants and of laws.
To restore fiscal sanity to Washington and make our government an instrument of the public good, not of private plunder.
To restore America's standing in the world, to end the war in Iraq, bring our troops home with honor, care for our veterans and give them the services they have earned.
We will work for an America again that will join with our allies in confronting our shared challenges, from poverty and genocide to terrorism and global warming.
Most of all, I ran to stand up for all those who have been invisible to their government for eight long years. Those are the reasons I ran for president, and those are the reasons I support Barack Obama for president.
I want you to ask yourselves: Were you in this campaign just for me? Or were you in it for that young Marine and others like him? Were you in it for that mom struggling with cancer while raising her kids? Were you in it for that young boy and his mom surviving on the minimum wage? Were you in it for all the people in this country who feel invisible?
We need leaders once again who can tap into that special blend of American confidence and optimism that has enabled generations before us to meet our toughest challenges. Leaders who can help us show ourselves and the world that with our ingenuity, creativity and innovative spirit, there are no limits to what is possible in America.
Now, this will not be easy. Progress never is. But it will be impossible if we don't fight to put a Democrat back into the White House.
We need to elect Barack Obama because we need a president who understands that America can't compete in the global economy by padding the pockets of energy speculators while ignoring the workers whose jobs have been shipped overseas. We need a president who understands that we can't solve the problems of global warming by giving windfall profits to the oil companies while ignoring opportunities to invest in the new technologies that will build a green economy.
We need a president who understands that the genius of America has always depended on the strength and vitality of the middle class.
Barack Obama began his career fighting for workers displaced by the global economy. He built his campaign on a fundamental belief that change in this country must start from the ground up, not the top down. And he knows government must be about "We the people" not "We the favored few."
And when Barack Obama is in the White House, he'll revitalize our economy, defend the working people of America, and meet the global challenges of our time. Democrats know how to do this. As I recall, we did it before with President Clinton and the Democrats. And if we do our part, we'll do it again with President Obama and the Democrats.
Just think of what America will be as we transform our energy agenda by creating millions of green jobs and building a new, clean energy future. Get middle class families get the tax relief they deserve. And I cannot wait to watch Barack Obama sign into law a health care plan that covers every single American.
And we know that President Obama will end the war in Iraq responsibly and bring our troops home and begin to repairing our alliances around the world.
And Barack will have with him a terrific partner in Michelle Obama. Anyone who saw Michelle's speech last night knows she will be a great First Lady for America.
And Americans are fortunate that Joe Biden will be at Barack Obama's side. A strong leader, a good man, who understands both the economic stresses here at home and the strategic challenges abroad. He is pragmatic, tough, and wise. And, of course, Joe will be supported by his wonderful wife, Jill.
They will be a great team for our country.
Now, John McCain is my colleague and my friend.
He has served our country with honor and courage.
But we don't need four more years of the last eight years.
More economic stagnation and less affordable health care.
More high gas prices and less alternative energy.
More jobs getting shipped overseas and fewer jobs created here at home.
More skyrocketing debt and home foreclosures and mounting bills that are crushing our middle class families.
More war and less diplomacy.
More of a government where the privileged come first and everyone else comes last.
Well, John McCain says the economy is fundamentally sound. John McCain doesn't think that 47 million people without health insurance is a crisis. John McCain wants to privatize Social Security. And in 2008, he still thinks it's OK when women don't earn equal pay for equal work.
Now, with an agenda like that, it makes perfect sense that George Bush and John McCain will be together next week in the Twin Cities. Because these days they're awfully hard to tell apart.
You know, America is still around after 232 years because we have risen to every challenge and every new time, changing to be faithful to our values of equal opportunity for all and the common good.
And I know what that can mean for every man, woman, and child in America. I'm a United States Senator because in 1848 a group of courageous women and a few brave men gathered in Seneca Falls, New York, many traveling for days and nights, to participate in the first convention on women's rights in our history.
And so dawned a struggle for the right to vote that would last 72 years, handed down by mother to daughter to granddaughter - and a few sons and grandsons along the way.
These women and men looked into their daughters' eyes and imagined a fairer and freer world, and found the strength to fight. To rally and picket. To endure ridicule and harassment and brave violence and jail.
And after so many decades - 88 years ago on this very day - the 19th amendment giving women the right to vote became enshrined in our Constitution.
My mother was born before women could vote. My daughter got to vote for her mother for president.
This is the story of women and men who defy the odds and never give up.
How do we give this country back to them?
By following the example of a brave New Yorker , a woman who risked her life to bring slaves along the Underground Railroad.
On that path to freedom, Harriet Tubman had one piece of advice.
If you hear the dogs, keep going.
If you see the torches in the woods, keep going.
If they're shouting after you, keep going.
Don't ever stop. Keep going.
If you want a taste of freedom, keep going.
And even in the darkest of moments, that is what Americans have done. We have found the faith to keep going.
I've seen it . I've seen it in our teachers and firefighters, nurses and police officers, small business owners and union workers, I've seen it in the men and women of our military. In America, you always keep going.
We are Americans. We're not big on quitting.
But remember, before we can keep going, we have to get going by electing Barack Obama the next president of the United States.
We don't have a moment to lose or a vote to spare.
Nothing less than the fate of our nation and the future of our children hangs in the balance.
I want you to think about your children and grandchildren come Election Day. Think about the choices your parents and grandparents made that had such a big impact on your life and on the life of our nation.
We've got to ensure that the choice we make in this election honors the sacrifices of all who came before us, and will fill the lives of our children with possibility and hope.
That is our duty, to build that bright future, to teach our children that, in America, there is no chasm too deep, no barrier too great, no ceiling too high for all who work hard, who keep going, have faith in God, in our country, and each other.
That is our mission, Democrats. Let's elect Barack Obama and Joe Biden for that future worthy of our great country.
Thank you. God bless you, and Godspeed."
A digestão do resultado foi lenta, passível de críticas de muitos sectores democratas pela fragilização de Barak Obama, pois não foi possível conjugar as hostes quando o desfecho das primárias estava traçado (Hillary Clinton tentou sempre manter uma réstia de oportunidade aberta...). Barak Obama convidou-a a discursar, pois sabe o peso que a senadora de Nova Iorque terá nos resultados: basta dizer que Obama e McCain surgem tecnicamente empatados nas sondagens de intenção de voto e cerca de 20% dos 18 milhões de confessos apoiantes de Hillary Clinton manifestam a intenção de não votar em Obama (já para não falar do spot publicitário de McCain, em que uma apoiante, democrata, de Hillary diz que votará naquele...).
A questão coloca-se: conseguirá Obama?

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Democracia

No dia 11 de Fevereiro de 2007 teve lugar o referendo relativo à despenalização da interrupção voluntária da gravidez, quando realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado; o resultado é de todos conhecido, tendo a resposta "Sim" obtido 59,25% dos votos e a resposta "Não" 40,75%.
Algumas das profecias avançadas pelos defensores da resposta "Não", como sejam a libertinagem das interrupções de gravidez, a perda de respeito pela vida humana, não se verificaram de todo.
Todavia, pouco ou nada se fez (porque será...) pela efectivação da educação sexual ao nível do ensino formalizado, e ainda não foram tomados passos importantíssimos para evitar que uma mulher que seja se veja perante a dilacerante opção de pôr termo à sua gravidez.
É público que fui defensor da resposta "Sim", tendo feito campanha nesse sentido e tomado a iniciativa de organizar um debate sobre a questão; mas não me posso mostrar satisfeito com o "day after", visto a sociedade não ter tomado em mãos um assunto desta importância.
Nem abandonado a demagogia.
"Vamos rezar o terço por todas as vítimas do aborto": esta mensagem foi difundida, via sms e correio eletrónico, para formar uma concentração junto aos hospitais de Faro, Portimão, Leiria, Guimarães e Braga pelas 21 horas de hoje.
Em Lisboa, a concentração está marcada para junto da Clinica De los Arcos, dada a conhecer, sobretudo antes do referendo, pelas mulheres portuguesas com condições financeiras de se deslocar a um estabelecimento de saúde com condições e pessoal médico preparado para levar a cabo as interrupções de gravidez, sobretudo com a garantia da componente psicológica.
Há já três meses que estas menifestações colectivas, nas quais se reza o terço, são organizadas nas imediações de estabelecimentos de saúde, públicos e privados; tudo impulsionado por um dos movimentos contrários à despenalização da interrupção da gravidez.
Não se bastam com os lusos: no Algarve também convocam os turistas a juntar-se à causa.
"Tragam um terço e uma vela com copo. Passem a palavra a quantos estejam solidários com a Causa da Vida, a sacerdotes e leigos, a grupos de jovens e outros movimentos da Igreja".
As manifestações decorrem dentro das formalidades tendentes a garantir a ordem pública, pelo que nada pode ser apontado quanto à realização das mesmas.
Apenas um reparo indirecto: não sou católico, mas custa-me ver que haja uma absoluta colagem entre a imagem dos crentes e estes movimentos; da mesma forma que católicos votaram "Sim", agnósticos, ateus e crentes de outras religiões votaram "Não". Felizmente o voto é a expressão das convicções pessoais de cada um.
O que me desagrada é que continue a demagogia de erigir os defensores do "Não" como contrários ao valor da vida humana: ano e meio volvido, continuamos na mesma?!
Na democracia temos que aceitar os resultados, quaisquer que eles sejam; e, contrários às nossas convicções, temos todo o direito (e dever moral) de nos manifestarmos contrários ao rumo escolhido, procurando convencer os votantes do bem-fundado da nossa razão.
O que não se mostra admissível é faltar ao respeito: pelas opiniões dos outros, pelas suas convicções profundas, pelas suas opções.
Nestes como noutros assuntos.
Num e noutro campo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Igualdade?!

O relatório de 2007 do Eurofund (Fundação Europeia para a melhoria das condições de vida e de trabalho), relativo aos aumentos salariais nos países da União Europeia, foi publicado, mostrando-nos dados inadmissíveis no que à questão da igualdade de género (e de idades) diz respeito: Em 2007, na União Europeia, as trabalhadoras ganhavam, em média, menos 15,9% do que os trabalhadores.
Os dados portugueses são chocantes: em 2007 as trabalhadoras portuguesas receberam, como contraprestação do seu trabalho, em média, apenas 74,6% do vencimento auferido pelos homens! Na Espanha, no nosso quadrante geográfico e cultural, as mulheres ganhavam, em média, 89% do auferido pelos homens, sendo que na Grécia a percentagem sobe para os 90%. mesmo atendendo ao facto dos dados da Grécia serem relativos a 2006, a diferença é abismal, sendo que diferença alguma é admissível.
Na União Europeia a 27 apenas a Eslováquia apresenta resultados mais vergonhosos que o português, sendo que a Eslovénia é o pais em que a diferença entre sexos é menor, 93,1%.
Diferença sexista inadmíssivel, como dissemos: os diplomas legais existem, com eles as implicações legais do desrespeito pelas normas, mas a mentalidade mantém-se.
Sendo certo que a diferença de vencimentos entre sexos tem vindo a decrescer, na União Europeia, desde 2005, baixando quase 10 pontos percentuais relativos, certo é que a diferença diminui muito lentamente, verificando-se mesmo ligeiros aumentos (casos da Alemanha, malta, República Checa e Portugal).
Num país em que o emprego é precário em muitos sectores, caoss preocupantes são os de jovens e mulheres: as últimas pela pretensa (na perspectiva do patronato) fragilidade e deficiência produtiva (aliado à visão retrógrada e retorcida que uma mulher é mãe, dona de casa, educadora, pelo que a função de trabalhadora sairá prejudicada...), os primeiros por serem "carne para canhão" muito fresca e em quantidade tal que a reduzida procura esmaga a imensa oferta, podendo mesmo manipular-se este sistema de (teórico) equilíbrio de valores sem dificuldades de maior.
Uma das maiores conquistas do 25 de Abril foi, a meu ver, relativo á condição feminina: as mulheres passaram a poder ser, não apenas o que queriam mas também o que não conheciam; no plano meramente formal o avanço português dá palma na Europa eno mundo, pelo muito que se cresceu em tão pouco tempo (três décadas...). Demasiado se encontra por fazer.
E dados destes reforçam a conclusão.
"Alea acta est".

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Mais uma deriva

Mais um presente: cada vez que o senhor profere um discurso, mais um título de jornal.
Agora admite a criação de um novo partido político, com uma matriz ideológica tão vasta como o Saara, combatendo os mauzões de Lisboa, visto que na oposição portuguesa organizada formalmente através de partidos políticos apenas o PCP é sério e credível...
Porque o Partido Socialista se está a transformar na União Nacional....
Comentar nem vale a pena; apenas chamar a atenção: era por isto que Alberto João Jardim estava quase nos braços de Pedro Santana Lopes, outra mina de ouro para a comunicação social, adepto de um novo espaço no espectro político-partidário?
Ou, de forma séria, não estaremos perante mais um ataque ao porta-aviões, mais um recado interno, mais um "agarra-me senão vou a ela"? Sim, porque tentativas de derivas partidárias em Portugal são conhecidas pelo sucesso...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Coincidências...

Responsáveis políticos polacos e americanos preparam-se para assinar, em Varsóvia, capital polaca, o acordo que permitirá aos Estados Unidos da América, em mais uma decisão "à la Bush", instalar na Polónia, primeiro de vários estados europeus, um sistema de protecção do solo americano composto por rampas de mísseis de intercepção.
A celebração do acordo foi antecipada, sendo que o sistema estará activado na totalidade em 2012.
Foi mais um passo no plano americano, que contempla a colocação de misseís em mais estados europeus e de radares, o que já foi feito, há sensivelmente um mês, na República Checa.
Tendo em conta a ofensiva russa na Ossétia e Geórgia, paredes meias com a Polónia, "one wonders...".

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O preço...

Cessar fogo na Ossétia, sim.
Mas a que preço? Humilhando um estado independente, bombardeando alvos civis (incluindo hospitais), reduzindo a quase nula a capacidade de defesa georgiana.
E o papel de Sarkozy?! Tanta soberba apresenta o galanteador gaulês, mas baixou a cabeça em acto de contrição. Ter o Ministro dos Estrangeiros francês a exigir que o que foi negociado tem que ser transformado em Resolução da ONU para se tornar juridicamente vinculativo é escarnecer do sofrimento de dezenas de milhares; tanta fleuma...
"Dove é" Durão Barroso? Para aqueles que não se recordam, Presidente da Comissão Europeia...
A Federação Russa sai claramente vencedora da contenda: afirmou o seu poderio geo-estratégico, pôs em sentido União Europeia e Estados Unidos da América, retomou as rédeas do status quo.

Desconstrução e Construção

Há 47 anos começava a construção de um marco que fiou conhecido como o Muro de Berlim: mais do que a barreira física, a barreira social e política, separando uma cidade e dois mundos.
No final da 2ª Grande Guerra, com a partilha dos despojos pelos principais estados Aliados, a cidade de Berlim foi dividida por sectores, colocados sobre duas esferas de influência diversas, originando dois estados na antiga Alemanha: a RFA, pró-ocidental e capitalista, e a RDA, pró-soviética e pró-socialista de estado, integrando o Pacto de Varsóvia.
Ficaram célebres as tentativas de fugas desesperadas de cidadãos da RDA, procurando asilo do racionamento, da plenipotente regulaçao da sua vida diária, dos desmandos de poder: basta pensar que o regime da RDA foi defensor da acção soviética em Praga...Um regime que, e porque a época é de ode ao desporto, de forma a perpetuar o poder e reforçá-lo perante o exterior, não se coibiu de recorrer a um programa de dopagem que provocou até alterações de sexo entre praticantes, abortos espontâneos em atletas, alterações hormonais profundas...
Na data era chanceler da RFA Konrad Adenaur, destacado político democrata-cristão, preso num campo de concentração nazi como opositor ao regime, pró-europeu e pró-ocidental.
Era Willy Brandt presidente da Câmara de Berlim: um dos rostos maiores da social-democracia europeia, tornar-se-ia chanceler alemão em 1969, mantendo-se no exercício do cargo durante 5 anos; galardoado com o Prémio Nobel da Paz (ficará sempre na memória o ajoelhar dele em Varsóvia perante o memorial às vítimas do Gueto construído pelo regime nazi), pacificador (encontrou-se com Yasser Arafat, Goarbachov, Saddam Hussein e o homólogo da RDA, Erich Honecker), presidente da Internacional Socialista.
Anos a fio foram famílias separadas, vidas destruídas e impedidas da felicidade por causa de um muro: intransponível, as centenas de pessoas que o tentaram escalar acabaram mortas ou presas (a pena era, no mínimo, de 2 anos de prisão). Décadas a fio os cidadãos da RDA, sobretudo os berlinenses, viam o progresso social e económico dos seus vizinhos e conterrâneos, do mesmo não podendo comungar, subjugados a uma noção estatizante e plenipotenciária de governo, à imagem de Moscovo e dos seus satélites: com uma polícia de estado, a Stasi, cujos atropelos aos direitos humanos são por demais conhecidos e ainda hoje se vão progressivamente conhecendo.
O Muro de Berlim caíu a 9 de Novembro de 1989: assisti ao acto, lembrando-me da felicidade espelhada na face de milhares de berlinenses, ávisos de liberdade!
Recordo pessoas em cima de trechos de muro com simples escopos, quebrando milimetricamente as grilhetas do passado, com uma força sobre-humana que a verdade e a razão dão aos justos.
E duas imagens simbólicas: quando dezenas de populares, prendendo uma corda a um pedaço maior de muro, o derrubaram, com a poeira a encher-lhes a alma, e as dezenas de milhares de pessoas nas Portas de Brandenburgo, símbolo eterno de liberdade, outrora inacessível a todos os alemãos orientais, como a todos os cidadãos dos países do Pacto de Varsóvia.
A influência da queda do Muro foi enorme: conhecemos o desmoronar do regime soviético, a Perestroika de Mickhail Gorbachov, o fim da URSS, o aparecimento de novos estados no Báltico, Cáucaso, Urais, na zona ocidental asiática.
A História não fez jus à acção de Gorbachov: um Prémio Nobel da Paz, mas o desprezo dos seus concidadãos, a vergonha da sua deposição, o estilhaçar do seu contributo para a democracia.
O Muro de Berlim permaneceu erguido 28 anos: produto de uma época instável, de conflito latente, que por pouco não desembocou em mais um conflito de escala mundial, com recurso a armas nucleares.
Existe, em Berlim, um Memorial ao Muro: que nunca deixe de existir.
Pois as grilhetas do passado jamais poderão abraçar os pulsos do futuro.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Vergonha!

Os Jogos Olímpicos sempre marcaram uma época de união entre povos, permitindo mesmo, num acordo tácito entre chefes de estado e chefias militares, suspender conflitos e acções armadas.
Terminou!
Vladimir Putin, ex-presidente da Federação Russa, agora primeiro-ministro, encontrava-se em Pequim, na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008, sorridente e deliciado; enquanto as tropas russas iniciavam um bombardeamento massivo, atingindo alvos civis, na luta por um território que dá pelo nome de Ossétia, disputado com a Geórgia, ex-república soviética.
Ainda se mantêm as acções militares, não obstante o apelo ao cessar-fogo; apesar de ter sido anunciado o início de negociações para a abertura de corredores de emergência, permitindo o socorro de civis e o acesso destes a comida e água potável, tropas russas bombardearam mesmo o aeroporto da capital da Geórgia, desactivando alguns radares.
Discipulos de Kyssinger, alegrai-vos: este é um óptimo case-study de real-geopolitic! Logo os responsáveis ucranianos anunciaram a intenção de barrar o acesso dos vasos de guerra russos a águas ucranianas, impedindo-os assim de levarem a cabo um bloqueio naval do território invadido. Os Estados Unidos da América, públicos defensores do estado da Geórgia, exigiram imediato cessar-fogo.
E milhares de deslocados e centenas de mortos valem pouco...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O regresso!

Alguns dias de férias fazem maravilhas!
De volta, de baterias carregadas e com toda a determinação!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Intervalo...

Serão apenas alguns dias.
Para colocar os escritos em dia e reforçar a inserção no blogue.
Falha minha não ser mais frequente; mas será mudado.
A todos vós desejo umas boas férias, regresso ao ou continuação do trabalho.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

XVI Congresso Nacional da Juventude Socialista






Uma semana volvida, debruço-me sobre ele.
Apresentei duas Moções, uma Sectorial, com o título "DECISÃO - SUPERIOR", aprovada com apenas 5 votos contra e 15 nulos entre cerca de 500 Delegados; e uma de Saudação, aprovada por unanimidade no último dia do Congresso.
A Moção Sectorial gerou um agradável debate, vindo a ser elogiada fortemente pelo Secretário responsável pela área do Ensino Superior, que enalteceu o sentido definido e a simbiose com algumas das propostas de Duarte Cordeiro na sua Moção Estratégica.
Acresce a intervenção, no ponto relativo à discussão das alterações ao Estatuto da Juventude Socialista, acerca da força impositiva da norma que prevê o pagamento de quotas pelos militantes: num nóvel Estatuto, aprovar letra morta (visto o Secretariado não desejar avançar nesse passo) parece-me vazio de conteúdo e contraproducente, prejudicando as novas normas introduzidas e alterações das existentes.
Dois dias de debate doutrinal, de contacto com Delegados de todo o país, eivados da mesma ideologia e do desejo de trabalhar em prol da população portuguesa; em que se debateu, de forma livre, assuntos que muitas vezes ficam a coberto da penumbra, como o casamento e adopção por casais homossexuais, igualdade de género, educação sexual.
Não obstante a existência de listas únicas para todos os órgãos nacionais, o Congresso não foi apenas um passeio triunfal: recorde-se a intervenção de João Pina, membro do Secretariado Nacional, que se opôs à institucionalização do sistema de quotas de género.
Uma página foi volvida: Duarte Cordeiro sucedeu a Pedro Nuno Santos; ao novo Secretário Geral desejam-se as maiores felicidades, sendo que contará com o meu contributo, não apenas a nível de congressos, no trabalho pelos jovens portugueses e o futuro de Portugal.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Aniversário


Hoje celebra 90 anos de idade um dos maiores seres humanos vivos: Nelson Mandela.
Uma das pessoas que mais admiro.
Gostaria de, como ele, poder perdoar sempre a quem não é correcto, injusto, imoral; 27 anos de clausura fizeram com que um Homem submetido ao ódio desenvolvesse uma capacidade espantosa de dialogar, de envolver, de cativar. Fazendo com que um regime indecente, de "apartheid", caísse pela força da palavra. Com De Clerk, co-galardoado com o Prémio Nobel, protagonizou um dos momentos mais belos a que assisti.
Os julgamentos de Rivonia constituirão um dos mais abjectos sinais da iniquidade do poder.
Quando foi libertado, transmitido em directo, interrompeu o programa de marionetas animadas a que assistia: era Domingo, 11 de Fevereiro de 1990, almoçava em casa da minha avó paterna, e o programa nunca mais era retomado; porquê, pensava eu, acompanham durante tanto tempo uma pessoa que sai de uma prisão?
Porque é Nelson Mandela!
Madiba.
Presidente da África do Sul, com nova bandeira, multicolor e multiracial. Arauto da luta contra o vírus HIV/SIDA.

Cidadão do Mundo, orador, democrata, humanista.

Simplesmente, NELSON MANDELA.

MUITO OBRIGADO!

terça-feira, 6 de maio de 2008

"É proibido proibir"

Comemora-se este ano o quadragésimo aniversário do movimento social que ficou conhecido como o "Maio de 68".
Foi, na opinião de muitos, o movimento sócio-cultural mais importante do século XX, verdadeira mecha na mudança de costumes.
Reduzi-lo a um mero movimento estudantil, secundado por trabalhadores grevistas, ou a uma mera libertinagem de levianos, é falha que se não aceita.
Mesmo que os líderes, utilizando dizeres de então, se tenham "aburgesado", que o "é obrigatório ter prazer" tenha que ser lido à luz dos tempos de hoje, as mudanças de mentalidade foram enormes.
Sarkozy defende a morte do Maio de 1968; será a solução?
As revoluções têm que ser vistas dessa forma, como processos de ruptura, conduzidos pelo subconsciente do Homem, afastando muitas vezes os avisados e ponderados em detrimento dos apaixonados. Em tempos desses, quem rouba mesas é rei!
O Maio de 1968, visto na imprensa portuguesa da época como um movimento de desordeiros, com dedo anarquita e comunistas (lá iriam comer as cirancinhas ao pequeno-almoço...) foi a mola necessária após o movimento estudantil de 1962 e que precedeu a crise de Coimbra de 69.
Muitos dos seus feitores ocupam hoje cargos de relevo na vida pública e política portuguesa.
E são uma demonstração clara que a acção produz resultado.
Que conseguimos.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Social democracia e suas figuras

É usual colocar-se a questão doutrinária das diferenças políticas entre o socialismo, a social-democracia e o liberalismo social. Mais importante que as querelas, são as políticas: a social-democracia, de que o Partido Socialista é herdeiro, que marca a matriz da Juventude Socialista, é a doutrina por mim defendida.
Solidariedade, Estado Providência, Coesão Social dialogante. Um tríptico que não é apenas um enumerar de boas intenções.
Diferente quadrante geográfico, mas a prova que a social-democracia é um sistema eficaz; conduzida por um homem que não conseguiu cumprir totalmente a sua função.
Olaf Palme
Nasceu a 30 de Janeiro de 1927 no seio de uma família próspera de classe média, tendo perdido o pai quando tinha 7 anos; era uma criança frágil, que dedicou muito tempo à leitura e à aprendizagem de línguas estrangeiras.
Enquanto estudante, por diversas vezes se deslocou aos Estados Unidos da América e ao Médio Oriente.
Em 1953 Tage Erlander, então primeiro-ministro, atribui-lhe a posição de secretário pessoal; dois anos depois é eleito membro do secretariado nacional da juventude social democrata.
As ideias força de Olaf Palme assentam sobre seis pontos: fim das diversas formas de colonialismo; o direito à auto determinação dos povos; a necessidade de uma nova ordem enconómica mundial; a luta contra o racismo; a procura da igualdade de direitos; a democratização da educação.
Defendia que o pleno emprego e um sector público forte eram os mais fortes sustentáculos da procura da igualdade entre os diferentes grupos sociais e entre os sexos. Defendia Estado Providência forte: todos, independentemente dos rendimentos que auferiam, deveriam beneficiar do sistema de segurança social, o que permitiria manter o traço de solidariedade e a vontade de pagar as taxas devidas, além de permitir evitar uma desigualdade material, obstando a que os mais ricos obtivessem vantagens derivadas da sua condição económica.
Foi ministro sem pasta em 1963, ministro da comunicação em 1965, ministro da educação em 1967 e, após a demissão de Tage Erlander, foi eleito secretário-geral do Partido Social Democrata, posteriormente vindo a ser eleito primeiro-ministro sueco.
A luta contra o desemprego era erigida como objectivo primeiro da social democracia, mesmo contra os liberais e os adventistas do mercado livre, não perdendo de vista um Estado forte, com fortes sindicatos e uma política de solidariedade.
Amado pelos seus concidadãos e pelos inúmeros emigrante e refugiados que a Suécia acolheu durante os governos que chefiou, devido à sua sensibilidade social, recolheu também algumas inimizades e mesmo ódios.
Veio a falecer aos 59 anos, a 28 de Fevereiro: vindo do cinema, de noite e sem os habituais guarda-costas, foi mortalmente atingido a tiro por um desconhecido, num caso que ainda não se encontra encerrado, rodeado de mistério e dúvidas.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Comparativo

Os dados são reais e apontam no sentido que todos sabemos e que muitos teimam em negar. Ou não reagir à inação de forma coerente. A análise tem por base do Distrito de Aveiro, comparando todos os seus concelhos em diversos quadrantes.
Em termos populacionais, vemos que o concelho de Anadia está abaixo da média distrital no que respeita à taxa de crescimento efectivo e de crescimento natural, na taxa bruta de natalidade e mortalidade e indíce de envelhecimento (o pior do distrito): seja, a população do concelho de Anadia é cada vez mais velha, por força disso vem diminuindo, visto que, aliado ao número de óbitos crescente está associado um número de nascimentos cada vez mais reduzido. Em comparação com concelhos vizinhos (Águeda, Oliveira do Bairro e Mealhada) os dados são muito negativos: Anadia está, a olhos vistos, a perder terreno.
Somos dos concelhos do distrito de Aveiro com maior número de extensões de saúde, mas temos menor poder de compra que a média do distrito (sexto pior concelho na relação per capita e com uma diferença superior a 10%, para menos), sendo que apresentamos um parâmetro negativo neste campo se comparados com os restantes concelhos da Bairrada.
Somos o terceiro pior concelho do distrito no que toca ao acesso a sistema de drenagem de águas residuais (pior da Bairrada) e apenas 21% da população é servida por ETAR's (pior da Bairrada).
Somos dos quintos concelhos com mais médicos por 1000 habitantes (melhor da Bairrada), o segundo concelho do distrito com menor montante de crédito à habitação por habitante (sinal da ruralidade do concelho, em primeiro lugar, mas também da fuga de munícipes para concelhos vizinhos).
A estatística é oficial. As respostas, quais serão?


sexta-feira, 18 de abril de 2008

Entrevista ao Semanário da Região Bairradina

Foi publicada, a 15 de Abril, a entrevista que concedi, enquanto Coordenador da Concelhia de Anadia da Juventude Socialista, ao Semanário da Região Bairradina; transcrevo-a:
"No concelho de Anadia não há debate de ideias"
O Museu do Vinho da Bairrada, em Anadia, foi o local escolhido para a apresentação pública dos elementos que constituem os órgãos da Juventude Socialista (JS) de Anadia; de referir que esta estrutura esteve inactiva durante três anos.
André Ferreira de Oliveira, Coordenador do Secretariado, referiu ao RB que "a JS foi retomada por imperativos de cidadania. O nosso objectivo é despertar as pessoas para os assuntos que, normalmente, não são debatidos no concelho, como o Ambiente, a Educação Sexual, as Minorias Sexuais, a Exclusão e a Cidadania".
"É necessário que as pessoas intervenham e participem activamente na criação de alternativas e que acreditem em causas", frisou.
A JS vai pautar o seu trabalho por uma forte intervenção no terreno, no sentido de auscultar as preocupações das populações e os seus nseios. "Pretendemos ter uma acção mais abrangente", afirmou.
O líder da Juventude Socialista diz que no concelho de Anadia "tem havido uma aposta na política de construção, em detrimento do factor humano".
André Ferreira de Oliveira realçou que o concelho tem 10 por cento de analfabetos, 70 por cento das pessoas têm apenas o ensino básico e a população está cada vez mais envelhecida. "Nada se tem feito para inverter esta situação, no sentido de atrair os jovens para Anadia. Assiste-se a uma deslocação de jovens para concelhos vizinhos, onde as condições são melhores", salientou.
O responsável pelos jovens socialistas diz que "há formas de o Poder Local intervir". Deixou no ar algumas medidas que poderiam ser tomadas, nomeadamente a atribuição de terrenos aos jovens para se fixarem no concelho, assim como permitir uma construção a preços controlados. Segundo André Ferreira de Oliveira "não existe uma estratégia definida no concelho em diversos sectores".
Referiu o facto da sede do concelho deixar de ter vida a partir das 19:00. "Noutros locais limítrofes a vida extra-laboral é pujante. Aqui em Anadia simplesmente não existe", frisou, acrescentando que "as actividades culturais são muito reduzidas. Existem estruturas, mas não há planos para as dinamizar e utilizar".
DEBATE DE IDEIAS É PROFÍCUO
A Juventude Socialista pretende levar a efeito, nos próximos tempos, um conjunto de acções, desde colóquios, acções de rua, até contactos com a população, no sentido de auscultar as necessidades das pessoas do concelho. No entender de André Ferreira de Oliveira, "não se pode manter a população afastada da tomada de decisões. No concelho de Anadia não há debate de ideias". A primeira acção deverá acontecer nos primeiros dias de Maio.
A questão ambiental ocupa um lugar de destaque nas propostas da JS. André Ferreira de Oliveira salientou que "Anadia tem várias falhas no que respeita ao ambiente". Uma das propostas que vão apresentar é a criação de um parque central. "Anadia precisa de um parque virado para a população", salientou o líder da Juventude Socialista. Apontou a zona do Choupal como um bom local para a criação do dito parque. mostrou-se contra a instalação do parque na zona do Complexo Desportivo. "Não faz muito sentido porque é muito periférico, o que obriga à deslocação das pessoas", adiantou.
Considerou que a par dos ecopontos "devia haver, em todas as freguesias, um oleão para a recolha dos óleos alimentares".
Na questão do Mercado Municipal de Anadia, a Juventude Socialista entende que não deve ser deitado abaixo. "Devia-se, pelo menos, manter a fachada principal", afirmou. No restante espaço, criar-se um edifício para albergar os diversos serviços públicos que estão espalhados em Anadia, nomeadamente Segurança Social, Conservatórias, Loja do Cidadão, entre outros. Devia existir ainda um piso para restauração, uma esplanada e espaço de lazer.
Anadia parou no tempo
No que respeita ao centro cívico da cidade, André Ferreira de Oliveira entende que "tem havido, nos últimos tempos, uma descaracterização total da imagem de Anadia. Devia-se aproveitar melhor o que existe. Nota-se que não existe uma estratégia".
Ao nível industrial, "registou-se uma estagnação. Anadia parou no tempo. Os concelhos vizinhos tiveram surtos de desenvolvimento muito grandes", salientou, acrescentando que "não é só criar zonas industriais, é preciso saber que tipo de indústrias se quer para o concelho".
Outra das propostas que os jovens socialistas vão propor é a criação de um Conselho Municipal da Juventude. A proposta vai ser apresentada numa das reuniões da Assembleia Municipal. Será um orgão de apoio ao Município, com competências consultivas, fiscalizadoras e promotoras, no que respeita à politica da juventude.
André Ferreira de Oliveira considerou importante que a "Assembleia Municipal e o Executivo tivessem na sua composiçao jovens". Quanto ao trabalho que irão desenvolver, assegurou que "não tem fins eleitoralistas, nem visa captar votos. Queremos apenas contribuir para que haja uma maior tolerância à diferença e despertar as pessoas para que não tenham medo de falar dos seus anseios".

Apresentação dos órgãos da Juventude Socialista de Anadia

No passado dia 13 de Abril, pelas 12 horas e no Museu do Vinho Bairrada, em Anadia, teve liugar a apresentação dos órgãos da Concelhia de Anadia da juventude Socialista.
No evento participaram seis dezenas de pessoas, num ambiente de cordialidade, alegria e requinte, que a todos deixou satisfeitos.
Após a recepção dos convidados teve início uma visita guiada, coordenada pelo director do Museu, Pedro Dias, que conduziu os visitantes ao longo das exposições patentes no espaço, nomeadamente a mais recente e com o tema "Sua Majestade, o Rei", dedicada ao leitão e com obras de renomados artistas nacionais e estrangeiros (entre outros, Júlio Pomar, Gerard Mas e Onik).
Seguiu-se à visita um discruso, por mim feito, de apresentação dos titulares dos órgãos e das linhas mestras da futura actuação da Concelhia de Anadia da Juventude Socialista, algumas delas já explanadas aquando da entrevista concedida ao Semanário da Região Bairradina.
Os convidados e militantes da estrutura poderam então deliciar-se com um magnífico almoço, organizado por Olga Silva: toda a atenção, dedicação e extrema qualidade que por ela foram empregues na organização do evento muito sensibilizaram todos os presentes, generosos nos (mais que merecidos) elogios.
Aqui fica uma singela, mas sentida, palavra de agradecimento: Clara, MUITO OBRIGADO!

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Concelhia de Anadia da Juventude Socialista

No passado dia 29 de Março decorreram as eleições para os órgãos da Concelhia de Anadia da Juventude Socialista. Foram eleitos, por unanimidade, os membros da Mesa da Assembleia e do Secretariado Concelhio.
A Mesa da Assembleia é composta por Vera Ferreira, como Presidente, e por Hugo Oliveira e Tiago Coelho, ambos Secretários.
O Secretariado é composto por mim e por Nuno Figueiredo, Paula Ferreira, Tiago Conde e Tiago Coelho.
No mesmo acto eleitoral foram eleitos os dois representantes da Juventude Socialista na Comissão Politica Concelhia de Anadia do Partido Socialista: Vera Ferreira e Tiago Conde.
Exercerei as funções de Coordenador, representando externamente a Concelhia, igaulmente tendo lugar no Secretariado do Partido Socialista, por inerência estatutária.
A Concelhia de Anadia da Juventude Socialista irá apostar em acções de divulgação e sensibilização junto dos cidadãos do concelho, sobretudo dos jovens, numa política de proximidade, auscultando as necessidades dos mesmos e trabalhando de forma próxima com todos aqueles que, como ela, pugnam pelo desenvolvimento da população de Anadia.
A apresentação pública dos órgãos da Concelhia ora eleita será feita no próximo dia 13 de Abril, pelas 12 horas, no Museu do Vinho Bairrada, em Anadia.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Interpelação

Hoje houve reunião pública da Câmara Municipal de Anadia.

Aproveitei o ensejo para colocar algumas questões ao Sr. Presidente de Câmara, na maioria relacionadas com questões neste blog já tratadas.

Questionei-o acerca do estado de trabalhos da ETAR de Mogofores: perante os protestos da população, cansada do cheiro nauseabundo, verdadeiro atentado para a saúde pública dos munícipes de Anadia, transmitíu aos órgãos de comunicação social local e regional que, no espaço de um mês, a situação estaria tratada e a estação desactivada. Hoje assegurou que no final deste mês, início de Abril, estaria o problema eliminado. A situação apenas não fora resolvida anteriormente porque a estação elevatória Avelãs de Caminho/Sangalhos, ainda não entrara em funcionamento, por culpa do empreiteiro.

Foi colocada questão relativamente ao estado da Ponte de Canha: foi dito que a obra, da Administração Central e com projecto aprovado, já se encontrava adjudicada, não avançando por falta de dotação por parte da Tutela, situação a ultrapassar brevemente.

Finalmente, a questão relativa ao Parque da Cidade: questionado sobre se a Câmara Municipal de Anadia havia projectado ou iria projectar um parque para Anadia, o Sr. Presidente de Câmara disse que já existiam diversos espaços verdes espalhados por Anadia, exemplificando com a Praça Visconde de Seabra, o Choupal, o Monte Castro e o espaço envolvente ao Cemitério.
Foi a pergunta repetida e, então sim, foi dito que a Câmara Municipal de Anadia tinha previsto a construção de um parque e este ficará localizado junto à zona desportiva, no Montouro.

Cumpre dizer:

A situação de Mogofores é por demais conhecida de todos. Apenas quando houve um verdadeiro levantamento popular, com cobertura dos meios de comunicação social, a Câmara Municipal decidíu fazer algo; mas o quê?! Ao fim de anos...Quantos moradores viram depreciado o valor dos seus prédios?
A situação é atentatória da saúde pública: algo foi feito?!

Relativamente à Ponte de Canha, local constransgente do tráfego rodoviário de e para Aveiro (norte de Portugal, via A17 e interior do país via IP3), a justificação está dada: a culpa é do Governo! Mas foi ou não dito publicamente que a obra seria da competência do Município de Anadia?

A questão do Parque da Cidade...
A definição de parque defendida pela Câmara, na figura do seu Presidente, é deveras singular. Chamar parque público ao Choupal é demasiado grave para nos rirmos: um espaço outrora verde, atulhado ainda nos executivos de Sílvio Cerveira, hoje ocupado por pastagem de cabras, recinto de malha, um quiosque ferrugento e diversos preservativos usados e lenços de papel. Basta olhar...
Chamar espaço verde ao Choupal choca; ainda mais relativamente à Praça Visconde de Seabra (quem a víu, com os canteiros de flores, os castanheiros e os bancos ocupados por dezenas de pessoas...) e junto ao Cemitério (?!), para onde foi transposto o Gingko Biloba (naquela madrugada esquecida, após o arrancamento...).
Finalmente o Monte Castro: mais de metade foi impermeabilizado para se proceder à instalação da Feira do Vinho e da Vinha. Certo que foi limpa essa vertente, e bem, rasgados trilhos, e bem, com o único problema de se ter procedido à aramização dos mesmos. Na outra face, junto ao cemitério, o que temos? Um espaço descuidado, onde chegou a existir um parque infantil com uma zona de refeições, hoje diminuido a improvisado parque de desportos radicais...

Mostra-se, sem dúvida, imprescindível a construção de um parque, e de raiz. A escolha do local pelo executivo mostra-se incorrecta: numa zona periférica, com grande volume de tráfego rodoviário mas sem núcleo urbano de construção, sem pessoas, obrigará à deslocação inútil das mesmas o que, por si só, não funciona como pólo aglutinador.
A zona proposta, do Choupal, beneficia do facto de ser mais central, numa rua com trânsito quase inexistente, além de ser percorrida por um curso natural de água; recuperando um espaço já existente mas necessitando de um reformulamento.

As respostas dadas, à saciedade, provam o desnorte. Mais, a inexistência de qualquer estratégia, in casu em termos de planeamento urbanístico e ambiental, para o concelho de Anadia

quinta-feira, 20 de março de 2008

O Tecto do Mundo

O Tibete, o “Tecto do Mundo”, está sob ocupação da República Popular da China (RPC) desde 1949. Nestes últimos dias tem-se assistido nos órgãos de comunicação social, ainda que de forma censurada, à transmissão de cargas policiais sobre manifestantes tibetanos clamando por um Estado livre, protestando contra os mais variados e acentuados atropelos aos direitos humanos dos habitantes do Tibete, situação que se vem prolongando há várias décadas.
Historicamente o Tibete possuía um território com 2,5 milhões de quilómetros quadrados, formado por três províncias: Amdo (agora dividida pela RPC nas províncias de Qinghai, Gansu e Sichuan), Kham (largamente incorporada pelos chineses nas províncias de Sichuan, Yunnan e Qinghai) e U-Tsang (que, juntamente com a oeste Kham, actualmente é referenciada pela RPC por Região Autónoma do Tibete). Tem como capital Lhasa, onde se encontra o Potala, o coração do budismo tibetano.
Em 1965 foi criada pela RPC a Região Autónoma do Tibete, correspondente a menos de metade do Tibete histórico.
Actualmente a sua população autóctone, de 6 milhões de tibetanos, é ultrapassada pelos chineses Han, com uns estimados 7,5 milhões de pessoas, maioritariamente em Amdo e Kham.
É neste território que se encontra a mais alta montanha do mundo, o Monte Evereste, (ou Chomo Langma, em tibetano) e onde nascem os rios Amarelo, Yangtse, Mekong e Tsangpo; faz fronteira com a Índia, Nepal, Butão, Burma e China.
O líder espiritual do Tibete, Dalai Lama, está exilado na Índia, em Dharamsala, Estado do Punjab, percorrendo o mundo para transmitir os ensinamentos do budismo tibetano e os valores da compreensão, solidariedade, respeito e paz.
O Tibete foi ocupado pelo regime comunista chefiado por Mao Tse-Tung: na sua luta para alargar a esfera do comunismo, de sinal próprio, foi estendendo os limites daquilo que, na década de 30 do século XX, era classificado como a China Imperial, abarcando territórios vastos e dando origem ao país que hoje conhecemos como República Popular da China.
A preparação da invasão chinesa começou a ter lugar no Verão de em 1950, com um ataque relâmpago a um posto fronteiriço tibetano pelos comunistas chineses, embora já no Outono do ano anterior se tivessem verificado pontuais incursões, com o fundamento que se estava a libertar o Tibete dos “agressores imperialistas”.
A invasão do Tibete pelo Exército de Libertação Popular, começou a 7 de Outubro de 1950, com o atravessamento da fronteira por 40.000 soldados (cinco vezes mais que os efectivos do exército tibetano, mal preparados e mal armados); com os ecos desta notícia, Dalai Lama foi entronizado, antecipando-se a sua maioridade, no dia 17 de Novembro de 1950, sendo constituído líder temporal do Tibete, numa cerimónia no Palácio Norbulingka, seguida por um indulto a todos os prisioneiros em cumprimento de pena.
Face à situação de eminente tomada de poder, foram enviados mensageiros ao Reino Unido, Estados Unidos, Nepal e China: apenas os últimos chegaram ao seu destino, sendo os restantes impedidos de o fazer, sinal claro do destino que estava reservado ao Tibete.
De forma a evitar uma invasão chinesa de grande escala, foi enviada uma delegação a Pequim para dialogar com os líderes chineses; sem possuir mandato para o efeito, foi obtido um acordo a 23 de Maio de 1951 o “Acordo de 17 Pontos para a Libertação Pacífica do Tibete”, assinado entre o Governo da RPC e o denominado “Governo Local do Tibete”; mas foi o mesmo obtido de forma forçada.
Em Julho de 1954 e Junho de 1955, sempre no sentido de evitar uma invasão do Tibete, Dalai Lama visitou a RPC; mas as brutalidades cometidas pelos agressores aumentavam, e o ressentimento entre os tibetanos era crescente.
A 10 de Março de 1959 o general chinês Chiang Chin-Wu convidava Dalai Lama para um espectáculo de dança, exigindo que nenhum soldado tibetano o acompanhasse e que os guarda-costas fossem desarmados, o que fez crescer o receio na população de Lhasa, que aos milhares fizeram um cordão à volta do Norbulingka.
Este episódio conduziu à consulta do oráculo de Nechung a 17 de Março daquele ano, sendo explicitamente indicado a Dalai Lama que fugisse, conselho seguido pelo jovem, disfarçado de soldado raso, e por um reduzido séquito.
Demoraram três semanas a atingir a fronteira com a Índia, que tinha concordado em oferecer-lhe asilo (depois de uma dúbia posição de Neru, não apoiando claramente qualquer das partes).
A 20 de Junho de 1959 Dalai Lama convoca uma conferência de imprensa, repudiando o “Acordo de 17 Pontos”, criando uma série de ministérios no exílio, envolvendo os 30 mil tibetanos agrupados em campos de refugiados no noroeste da Índia.
Desde então Dalai Lama tem pautado a sua intervenção pública pela defesa da cultura e tradição tibetana, apelando a uma solução de consenso para o problema da ocupação do Tibete. Percorre todo o mundo transmitindo a sua mensagem, apelando à não-violência, mostrando a face à mão chinesa, acreditando na co-existência pacífica.
No dia 10 de Março de 1963, no exílio, foi promulgada uma Constituição do Tibete, consignando a existência de um Estado de Direito Democrático fundado nos princípios e ensinamentos de Buda, no respeito dos princípios humanos e trabalhando para a garantia do bem-estar dos seus cidadãos, renunciando à guerra (uma declaração de neutralidade).
Consagrava-se a liberdade religiosa, prevendo a igualdade de religiões perante a lei, não se elevando o budismo tibetano a religião oficial do Estado.
A propriedade de todo o solo era reservada ao Estado, que o disponibilizaria mediante pagamento de renda.
O poder executivo era investido em Dalai Lama, chefe de Estado, que o poderia delegar, salvaguardando sempre os ditames constitucionais; criava-se o Kashag, composto pelo primeiro-ministro e pelo menos cinco ministros, presidido por Dalai Lama e com a função de o auxiliar e aconselhar relativamente à administração do poder executivo.
Nos casos em que o reencarnado Dalai Lama não tivesse ainda idade para assumir ou ainda não tivesse assumido o poder; para os casos em que estava fora do Tibete; quando estivesse física ou mentalmente impedido ou quando assim o determinasse a Assembleia Nacional, por ser a decisão mais conforme aos interesses da Nação, o poder era assumido pelo Conselho de Regência.
Previa-se um Conselho Eclesiástico para as questões religiosas.
O poder legislativo era investido na Assembleia Nacional, composta: em 75% por membros eleitos directamente pelos eleitores (maiores de 18 anos); em 10% por membros eleitos pelos mosteiros e outras instituições religiosas; em 10% pelos membros dos Conselhos Regionais e Distritais; em 5% pelas pessoas indicados por Dalai Lama, escolhidos entre distintas personalidades nos ramos das artes, ciências ou literatura.
Os juízes do Supremo Tribunal eram indicados por Dalai Lama, dentro dos juízes que tivessem exercido pelo menos durante 5 anos as funções de juízes distritais, ou dentro os advogados que tivessem exercido durante pelo menos dez anos num destes tribunais.
O Estado era dividido em regiões, sendo que o poder executivo nas mesmas era exercido por um Governador Regional, auxiliado por um Governador Delegado, eleito pelos Conselhos Regionais (órgãos legislativos regionais eleitos, com competências de âmbito regional em matérias diversas como educação e saúde).
Em 1987, perante os Congressistas dos Estados Unidos, a 21 de Setembro, Dalai Lama propôs o Plano dos 5 Passos, um plano de paz para restabelecer a concórdia entre o Tibete (o histórico, reivindicado pelos tibetanos) e a RPC. Como o nome indica, eram cinco os baluartes desta proposta:
Transformação do Tibete numa zona de paz: previa a retirada das forças militares da RPC, bem como de todas as infra-estruturas militares existentes, além da retirada dos efectivos do exército indiano da região dos Himalaias.
Abandono da política de transferência de população chinesa que põe em causa a existência dos tibetanos como povo: Pequim procura uma solução final para o problema tibetano, encetando desde 1983 uma política de transferência de chineses, em grande escala, para o Tibete, a ponto de, neste momento, existirem mais milhão e meia de chineses do que tibetanos numa população de treze milhões e meio de habitantes (tomando como referência o Tibete histórico). Esta transferência em massa é um claro desrespeito pela 4ª Convenção de Genebra, de 1949, e põe em causa a sobrevivência dos tibetanos como povo, pela aculturação forçada aos valores sino-ocidentais, aliada à destruição dos costumes e tradições autóctones. Além da população, não despiciendo é a existência de 250 mil efectivos militares chineses no Tibete! E que dizer do milhão de tibetanos mortos…
Respeito pelos fundamentais direitos humanos do povo tibetano e das suas liberdades democráticas: a destruição de mosteiros e da cultura budistas tinha que ser cessada de imediato, deixando de se restringir a entrada nos mosteiros apenas aos noviços autorizados pelo Partido Comunista Chinês. E milhares de tibetanos encontram presos ou a cumprir trabalhos forçados por motivos políticos ou religiosos.
Restauração e protecção do ambiente tibetano e o abandono da política chinesa de produção de armas nucleares e despejo de lixo nuclear: o respeito pela vida de todos os seres é parte integrante dos tibetanos, independentemente da religião que professem; as florestas foram quase todas destruídas, espécies animais extintas, assistindo-se à utilização do solo tibetano como lixeira nuclear, chinesa e de outros estados, e fábrica.
Início de negociações tendentes ao estabelecimento do Estado do Tibete e das relações entre os povos tibetano e chinês: não obstante as diferenças culturais, nada justifica a não possibilidade e não intenção de assegurar uma coexistência pacífica entre o Tibete e a China e seus povos; e os obstáculos à consecução desse objectivo são, de todo, desnecessários.
Em 1989 rebentam os protestos mais violentos contra a ocupação chinesa do Tibete, que conduzem ao decretamento do estado marcial na Região Autónoma do Tibete, a 7 de Março: com início às 0 horas do dia 9 de Março, o actual Presidente da RPC, Hu Jintao, então Governador da Região Autónoma do Tibete (o primeiro não militar), instituiu a Lei Marcial, proibindo estritamente qualquer assembleia, marcha, petição, reunião ou aglomeração de trabalhadores, estudantes ou quaisquer outras pessoas, proibindo a circulação de pessoas e veículos sem autorização do governo autonómico, proibindo de qualquer pessoa, autóctone ou estrangeira, de entrar na região sem autorização expressa, e punindo de forma severa todos os envolvidos.
A revolta da população tibetana, regular e secular, provocou dezenas de mortos, obrigando à manutenção da Lei Marcial durante 13 dias. Resultava dos atropelos aos mais basilares direitos humanos do povo tibetano, decerto não sendo alheio ao clima revoltoso a publicação do Plano dos 5 Passos.
Nesse mesmo ano de 1989, é atribuído o Prémio Nobel da Paz a Dalai Lama: este recebe o prémio em Oslo, a 10 de Dezembro de 1989, em Oslo.
A 26 de Fevereiro de 1992, novas linhas mestras, traçadas por Dalai Lama, para a futura Constituição e Política do Tibete, como Estado. Que advoga um Tibete livre, rejeitando a dúbia democracia centralizada chinesa e advogando uma verdadeira democracia, com liberdade de pensamento, expressão e movimento para a população das três províncias histórias do Tibete, agrupadas na mesma entidade estatal. Um Tibete com um sistema parlamentar multipartidário, com clara separação entre os poderes executivo, legislativo e judicial, revestido de igual autoridade.
Colocando a tónica, no momento da transição, sobre os funcionários tibetanos a exercer funções na estrutura organizacional chinesa; período de transição entre a liberdade do Tibete e a retirada das forças repressivas chinesas que prepararia a entrada em vigor da nova Constituição, com um governo interino encabeçado por uma pessoa que assumiria os poderes que, no futuro, caberiam a Dalai Lama.
Ao contrário do projecto de 1963, os solos não pertenceriam ao Estado mas seriam distribuídos tendo em conta as características dos mesmos e as necessidades dos tibetanos.
O poder legislativo estaria a cargo de duas Câmaras, a das Regiões (compostas por membros eleitos pelas assembleias regionais, com um número limitado de pessoas indicadas pelo Presidente) e a dos Comuns (o corpo legislativo mais importante, composto por membros directamente eleitos pelos tibetanos), tendo os diplomas aprovados que ser promulgados pelo Presidente: este será coadjuvado por um vice-presidente, eleito pelos membros das Câmaras e assembleias regionais.
O poder executivo cabe ao governo, chefiado por um Primeiro-Ministro, pertencente ao partido ou grupo político mais representado na Câmara dos Comuns.
Cada região, cujos limites seriam demarcados pela Assembleia Nacional Tibetana, teria um Governados nomeado pelo Presidente, um governo regional encabeçado por um Ministro para a Região, eleito pela Assembleia Regional; esta teria competência para regular matéria de interesse regional.
Já nestes documentos Dalai Lama dizia que abdicava do lugar que, desde sempre e no coração dos tibetanos, a viver no exílio e fora da Região Autónoma do Tibete, budistas e não budistas, para que o objectivo de um Tibete livre fosse alcançado.
No final da passada semana, mantendo-se ainda hoje, estalou mais uma vez a revolta entre os tibetanos: tumultos surgiram em diversos pontos do Tibete histórico: Lhasa, Shigatse, Penpu, Litang, Dawu, Ganzi, Aba, Machu, Sershul, Repkong, Lanzhou, Labrang, Maerkang.
O Governo da Região Autónoma do Tibete, a 14 de Março último, responsabilizava a clique de Dalai Lama pela organização, premeditação e planeamento das sabotagens em Lhasa. Foram incendiadas lojas na baixa de Lhasa e três feridos, hospitalizados.
O Responsável do Governo da Região Autónoma do Tibete, Qiangba Pungcog, avisou que “quaisquer planos para destruir a estabilidade social ou arquitectar a secessão do Tibete são contra a vontade da população do Tibete e destinados ao fracasso”, ao mesmo tempo que informava que não havia sido utilizado qualquer arma destrutiva nos confrontos com os participantes nos motins.
Acusavam as autoridades chinesas Dalai Lama, sendo a intenção destes tumultos boicotar e prejudicar a realização dos Jogos Olímpicos de Pequim; em resposta, aquele rejeita as acusações, dizendo que é uma oportunidade de ouro para a China e para o povo chinês.
A 18 de Março, em conferência de imprensa, requereu que as acusações chinesas de ser o responsável pelos tumultos fossem investigadas, para aquilatar se o genocídio cultural a que sujeitam o povo chinês não será, ela sim, o principal causador dos problemas. Juntamente com a violação da liberdade religiosa.
Diz crer que os protestos são manifestações espontâneas do ressentimento da população, crescendo ao longo de anos de repressão, recusando a ideia chinesa de que as medidas repressivas adicionais poderão permitir o objectivo de unidade e estabilidade a longo termo.
Qin Ganag, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, referiu-se a Dalai Lama como um “falso e hipócrita líder religioso que quer a independência do Tibete.”, instando-o a desistir de qualquer intenção de um Tibete independente, visto que este é parte integrante da China.
Este, em resposta, referiu estar disponível para negociações logo que terminada a crise; mais, a solução que defende não passa por uma independência mas por uma “autonomia significativa”.
Atribuindo a origem dos distúrbios à instigação de Dalai Lama, as autoridades chinesas referem a existência, em Lhasa apenas, de 325 feridos e 16 mortos; destes treze teriam sido queimados pelos manifestantes e três morreram quando tentavam saltar de janelas e telhados, alguns de prédios a arder.
Os grupos tibetanos no exílio falam em cerca de 100 mortos causados pela intervenção das forças chinesas no território.
O anseio, por diversas vezes expressado, é conseguir um Tibete livre, uno e pacífico, seguindo a Via do Meio. E um particular de Dalai Lama, poder viver como aquilo de sempre diz ser: um simples monge.
Esteve em Portugal, em visita, tendo-se deslocado à Universidade de Coimbra: tive a sorte de poder estar presente quando saiu do automóvel que o transportava.
Um sorriso cativante. E colocou-me uma questão, a mim e a um colega, em inglês, procurando saber como estávamos e se gostávamos da nossa casa de estudo.
É impossível não sentir a especialidade do simples monge.
Sim, do Iluminado.

terça-feira, 11 de março de 2008

Experiência

Uma entrevista captou a minha atenção: o entrevistado era Gonçalo Ribeiro Telles, "criador" da Reserva Ecológica Nacional, REN, instrumento jovem (25 anos) e tão relevante quão desrespeitado no planeamento do espaço nacional, regional e local.

Com 85 anos de idade, a sua agudeza de espírito apenas surpreende quem nunca o ouvíu. E as palavras que utiliza são o espelho fiel de uma parte significativa do modus operandi luso.

Da revista NS, nº 111, de 23 de Fevereiro de 2008:

"As cheias desta semana (16 a 23) na Grande Lisboa surpreendem-no?
Nada, absolutamente nada. E vão repetir-se, porque se tem aumentado a impermebialização devido ao excesso de construção e continua a fazer-se más obras que impedem a circulação da água. E não se diga que a culpa é da intensidade das chuvas ou das alterações climáticas. Mesmo que assim fosse, é urgente adaptarmo-nos. As cheias são o resultado de erros de urbanismo. Não se pode continuar a cometer erros de planeamento e as autarquias têm que aplicar Planos Verdes."

"...(REN e Reserva Agrícola Nacional)...São poucas as pessoas que entendem o seu alcance, a importância que tem para a comunidade, a preservação do território e da paisagem. O conceito de desenvolvimento aparece erradamente associado à produção de dinheiro a curto prazo, o que não é compatível com a boa gestão dos recursos naturais nem com a necessidade da sua renovação permanente."

"As críticas, sobretudo de autarcas, devem-se a quê?
De certo modo, a REN contrariou a especulação, a transferência do uso do solo, do solo rural, para zonas urbanas e industriais. Funcionou como um travão, um obstáculo àquilo que se julgava ser o denvolvimento"

"...o país não pode ser um puzzle em que é tudo igual e com o mesmo tipo de desenvolvimento."
O aviso anda no éter demasiado tempo; os resultados são o que se vê e sente...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Passos concrectos

Foi proposto, pelo Presidente do Município de Anadia, a demolição do edifício do actual Mercado Municipal, situado nas traseiras do edifício dos Paços do Conselho.

Com a inauguração (para quando?) do mais recente espaço, defende o edil que a estrutura actualmente existente se mostra anquilosada, não sendo viável a sua manutenção.

Defende, ao invés, a criação de um espaço de estacionamento subterrâneo, encimada por uma nova praça.

Traduz esta situação mais um episódio na constante delapidação do património histórico de Anadia, cidade e concelho.
O edifício dos antigos Serviços Municipalizados deu lugar a um espaço que possui a grande parte das lojas encerradas; e que dizer dos apartamentos?

O mesmo se diga quanto aos Paços do Conselho: elogio a intervenção na sala da Assembleia Municipal, que ficou com um aspecto envolvente, quente; critico, porém, a posição da mesa: estruturas de supra-infra-ordenação afastam cada vez mais os cidadãos, desejosos de efectivamente fazerem ouvir a sua voz e poder contribuir para a melhoria da vida pública. Mais do que isso, critico a intervenção que foi levada a cabo no hall de entrada: fria, com a eliminação da escadaria de acesso ao primeiro andar.

Defendo uma perspectiva diferente.
Que passa pela manutenção dos espaços e da memória, renovando e retocando quando necessário, eliminando quando indispensável.

Nesta matéria:

No espaço onde se situam as instalações do Mercado Municipal, defendo a construção de um novo espaço da e para a cidade.

Um espaço destinado a albergar os serviços públicos da Administração Central e Local.

Cumprindo a obrigação de, em 2009, Anadia ter que possuir uma Loja do Cidadão, este será o espaço ideal: juntamente com a Segurança Social, as Finanças, a Conservatória do Registo Civil e Predial, um serviço de mediação penal ou laboral (um objectivo pelo qual deve pugnar a Câmara Municipal de Anadia), ocupando dois pisos destinados a reunir, num mesmo espaço, todos os serviços de atendimento ao público.

Importante em dois sentidos: permitindo aos munícipes, sobretudo das freguesias mais afastadas da sede de concelho e de mais idade, evitar diversas deslocações em Anadia.

Mais facilmente atrair financiamento, sobretudo da Administração Central que, desta forma, consegue poupar milhares de euros em rendas.

Num terceiro piso, o piso de restauração: com um bar e um restaurante, ambos servidos por esplanada, virada para a Praça do Município, fazendo a união dos espaços.

Sendo inviável a manutenção, "qua tale", do edifício do Mercado, uma solução intermédia, passando pela preservação do arco da entrada. O átrio da entrada dando acesso a um elevador panorâmico, do primeiro ao terceiro piso, também virado para a Praça do Município.

A par da construção deste novo edifício, uma nova Praça Visconde de Seabra: eliminado o anterior jardim, a criação de um pequeno e diversificado espaço verde, complementado com a construção de um Parque da Cidade, na zona do Choupal.

Anadia anseia por um espaço verde digno desse nome: impermiabilizado o Monte Castro, colocadas lajes na Praça do Município (ainda se recordam da eliminação da Gingko Biloba?), repuxada a Praça Visconde de Seabra, atulhado o Choupal, onde estão os espaços verdes numa localidade elevada a cidade?


Também nesta matéria passos concrectos

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Enorme

Existem pessoas verdadeiramente inspiradoras: seres especiais que pautam a sua vida por uma linha de actuação que resiste a todas as dificuldades, por maiores que sejam; que, contra o "status quo", as conveniências sociais ou o simples caminho mais fácil, curto e seguro, caminham de forma incansável.

Porque o bem é a única meta.

Martin Luther King Jr. é um baluarte: pugnou pelo respeito dos mais basilares direitos, desde logo o de Ser; ser humano, pessoa. Que ultrapassou o ódio e as diferenças raciais, unindo irmãos desavindos.

Proferiu um dos mais brilhantes discursos de sempre, perante mais de 250.000 pessoas, no fim da Marcha para Washington por Emprego e Liberdade, pela defesa dos direitos humanos e cívicos, no Linclon Memorial, em Washington, no dia 28 de Agosto de 1963.
Um ano depois, Martin Luther King Jr. era galardoado com o Prémio Nobel da Paz.

O discurso é por muitos conhecidos pela expressão forte: "I have a Dream".


É um prazer lê-lo: partilho-o convosco, também no original.


"Que a Liberdade Ressoe"


Há cem anos, um grande americano, sob cuja sombra simbólica nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro. Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre.
Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua a viver numa ilha isolada de pobreza, no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha nas margens da sociedade americana, estando exilado na sua própria terra.
Por isso, encontramo-nos aqui hoje para dramaticamente mostrarmos esta extraordinária condição. Num certo sentido, viemos à capital do nosso país para descontar um cheque. Quando os arquitectos da nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração de independência, estavam a assinar uma promissória de que cada cidadão americano se tornaria herdeiro.
Este documento era uma promessa de que todos os homens veriam garantidos os direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à procura da felicidade. É óbvio que a América ainda hoje não pagou tal promissória no que concerne aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar este compromisso sagrado, a América deu ao Negro um cheque sem cobertura; um cheque que foi devolvido com a seguinte inscrição: "saldo insuficiente". Porém nós recusamo-nos a aceitar a ideia de que o banco da justiça esteja falido. Recusamo-nos a acreditar que não exista dinheiro suficiente nos grandes cofres de oportunidades deste país.
Por isso viemos aqui cobrar este cheque - um cheque que nos dará quando o recebermos as riquezas da liberdade e a segurança da justiça. Também viemos a este lugar sagrado para lembrar à América da clara urgência do agora. Não é o momento de se dedicar à luxuria do adiamento, nem para se tomar a pílula tranquilizante do gradualismo. Agora é tempo de tornar reais as promessas da Democracia. Agora é o tempo de sairmos do vale escuro e desolado da segregação para o iluminado caminho da justiça racial. Agora é tempo de abrir as portas da oportunidade para todos os filhos de Deus. Agora é tempo para retirar o nosso país das areias movediças da injustiça racial para a rocha sólida da fraternidade.
Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência do momento e subestimar a determinação do Negro. Este sufocante verão do legítimo descontentamento do Negro não passará até que chegue o revigorante Outono da liberdade e igualdade. 1963 não é um fim, mas um começo. Aqueles que crêem que o Negro precisava só de desabafar, e que a partir de agora ficará sossegado, irão acordar sobressaltados se o País regressar à sua vida de sempre. Não haverá tranquilidade nem descanso na América até que o Negro tenha garantido todos os seus direitos de cidadania.
Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir as fundações do nosso País até que desponte o luminoso dia da justiça. Existe algo, porém, que devo dizer ao meu povo que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça. No percurso de ganharmos o nosso legítimo lugar não devemos ser culpados de actos errados. Não tentemos satisfazer a sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio.
Temos de conduzir a nossa luta sempre no nível elevado da dignidade e disciplina. Não devemos deixar que o nosso protesto realizado de uma forma criativa degenere na violência física. Teremos de nos erguer uma e outra vez às alturas majestosas para enfrentar a força física com a força da consciência.
Esta maravilhosa nova militancia que engolfou a comunidade negra não nos deve levar a desconfiar de todas as pessoas brancas, pois muitos dos nossos irmãos brancos, como é claro pela sua presença aqui, hoje, estão conscientes de que os seus destinos estão ligados ao nosso destino, e que sua liberdade está intrinsecamente ligada à nossa liberdade.
Não podemos caminhar sozinhos. À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos em frente. Não podemos retroceder. Há quem pergunte aos defensores dos direitos civis: "Quando é que ficarão satisfeitos?" Não estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos incontáveis horrores da brutalidade policial. Não poderemos estar satisfeitos enquanto os nossos corpos, cansados das fadigas da viagem, não conseguirem ter acesso a um lugar de descanso nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Não poderemos estar satisfeitos enquanto a mobilidade fundamental do Negro for passar de um gueto pequeno para um maior. Nunca poderemos estar satisfeitos enquanto um Negro no Mississipi não pode votar e um Negro em Nova Iorque achar que não há nada pelo qual valha a pena votar. Não, não, não estamos satisfeitos, e só ficaremos satisfeitos quando a justiça correr como a água e a rectidão como uma poderosa corrente.
Sei muito bem que alguns de vocês chegaram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês saíram recentemente de pequenas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde a vossa procura da liberdade vos deixou marcas provocadas pelas tempestades da perseguição e sofrimentos provocados pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento injusto é redentor.
Voltem para o Mississipi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para a Luisiana, voltem para as bairros de lata e para os guetos das nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não nos embrenhemos no vale do desespero.
Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Tenho um sonho que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: "Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais".
Tenho um sonho que um dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade.
Tenho um sonho que um dia o estado do Mississipi, um estado deserto, sufocado pelo calor da injustiça e da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu caractér.
Tenho um sonho, hoje.
Tenho um sonho que um dia o estado de Alabama, cujos lábios do governador actualmente pronunciam palavras de ... e recusa, seja transformado numa condição onde pequenos rapazes negros, e raparigas negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos rapazes brancos, e raparigas brancas, caminhando juntos, lado a lado, como irmãos e irmãs.
Tenho um sonho, hoje.
Tenho um sonho que um dia todo os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão niveladas, os lugares ásperos serão polidos, e os lugares tortuosos serão endireitados, e a glória do Senhor será revelada, e todos os seres a verão, conjuntamente.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao Sul. Com esta fé seremos capazes de retirar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as dissonantes discórdias de nossa nação numa bonita e harmoniosa sinfonia de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ir para a prisão juntos, ficarmos juntos em posição de sentido pela liberdade, sabendo que um dia seremos livres.
Esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: "O meu país é teu, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram os meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, que de cada localidade ressoe a liberdade".
E se a América quiser ser uma grande nação isto tem que se tornar realidade. Que a liberdade ressoe então dos prodigiosos cabeços do Novo Hampshire. Que a liberdade ressoe das poderosas montanhas de Nova Iorque. Que a liberdade ressoe dos elevados Alleghenies da Pensilvania!
Que a liberdade ressoe dos cumes cobertos de neve das montanhas Rochosas do Colorado!
Que a liberdade ressoe dos picos curvos da Califórnia!
Mas não só isso; que a liberdade ressoe da Montanha de Pedra da Geórgia!
Que a liberdade ressoe da Montanha Lookout do Tennessee!
Que a liberdade ressoe de cada Montanha e de cada pequena elevação do Mississipi.
Que de cada localidade, a liberdade ressoe.
Quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada aldeia, de cada estado e de cada cidade, seremos capazes de apressar o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar as palavras da antiga canção negra: "Liberdade finalmente! Liberdade finalmente! Louvado seja Deus, Todo Poderoso, estamos livres, finalmente!"



Versão Original



Five score years ago, a great American, in whose symbolic shadow we stand signed the Emancipation Proclamation. This momentous decree came as a great beacon light of hope to millions of Negro slaves who had been seared in the flames of withering injustice. It came as a joyous daybreak to end the long night of captivity. But one hundred years later, we must face the tragic fact that the Negro is still not free.
One hundred years later, the life of the Negro is still sadly crippled by the manacles of segregation and the chains of discrimination. One hundred years later, the Negro lives on a lonely island of poverty in the midst of a vast ocean of material prosperity. One hundred years later, the Negro is still languishing in the corners of American society and finds himself an exile in his own land.
So we have come here today to dramatize an appalling condition. In a sense we have come to our nation's capital to cash a check. When the architects of our republic wrote the magnificent words of the Constitution and the Declaration of Independence, they were signing a promissory note to which every American was to fall heir.
This note was a promise that all men would be guaranteed the inalienable rights of life, liberty, and the pursuit of happiness. It is obvious today that America has defaulted on this promissory note insofar as her citizens of color are concerned. Instead of honoring this sacred obligation, America has given the Negro people a bad check which has come back marked "insufficient funds." But we refuse to believe that the bank of justice is bankrupt. We refuse to believe that there are insufficient funds in the great vaults of opportunity of this nation.
So we have come to cash this check -- a check that will give us upon demand the riches of freedom and the security of justice. We have also come to this hallowed spot to remind America of the fierce urgency of now. This is no time to engage in the luxury of cooling off or to take the tranquilizing drug of gradualism. Now is the time to rise from the dark and desolate valley of segregation to the sunlit path of racial justice. Now is the time to open the doors of opportunity to all of God's children. Now is the time to lift our nation from the quicksands of racial injustice to the solid rock of brotherhood.
It would be fatal for the nation to overlook the urgency of the moment and to underestimate the determination of the Negro. This sweltering summer of the Negro's legitimate discontent will not pass until there is an invigorating autumn of freedom and equality. Nineteen sixty-three is not an end, but a beginning. Those who hope that the Negro needed to blow off steam and will now be content will have a rude awakening if the nation returns to business as usual. There will be neither rest nor tranquility in America until the Negro is granted his citizenship rights.
The whirlwinds of revolt will continue to shake the foundations of our nation until the bright day of justice emerges. But there is something that I must say to my people who stand on the warm threshold which leads into the palace of justice. In the process of gaining our rightful place we must not be guilty of wrongful deeds. Let us not seek to satisfy our thirst for freedom by drinking from the cup of bitterness and hatred.
We must forever conduct our struggle on the high plane of dignity and discipline. we must not allow our creative protest to degenerate into physical violence. Again and again we must rise to the majestic heights of meeting physical force with soul force.
The marvelous new militancy which has engulfed the Negro community must not lead us to distrust of all white people, for many of our white brothers, as evidenced by their presence here today, have come to realize that their destiny is tied up with our destiny and their freedom is inextricably bound to our freedom.
We cannot walk alone. And as we walk, we must make the pledge that we shall march ahead. We cannot turn back. There are those who are asking the devotees of civil rights, "When will you be satisfied?" we can never be satisfied as long as our bodies, heavy with the fatigue of travel, cannot gain lodging in the motels of the highways and the hotels of the cities. We cannot be satisfied as long as the Negro's basic mobility is from a smaller ghetto to a larger one. We can never be satisfied as long as a Negro in Mississippi cannot vote and a Negro in New York believes he has nothing for which to vote. No, no, we are not satisfied, and we will not be satisfied until justice rolls down like waters and righteousness like a mighty stream.
I am not unmindful that some of you have come here out of great trials and tribulations. Some of you have come fresh from narrow cells. Some of you have come from areas where your quest for freedom left you battered by the storms of persecution and staggered by the winds of police brutality. You have been the veterans of creative suffering. Continue to work with the faith that unearned suffering is redemptive.
Go back to Mississippi, go back to Alabama, go back to Georgia, go back to Louisiana, go back to the slums and ghettos of our northern cities, knowing that somehow this situation can and will be changed. Let us not wallow in the valley of despair.
I say to you today, my friends, that in spite of the difficulties and frustrations of the moment, I still have a dream. It is a dream deeply rooted in the American dream.
I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: "We hold these truths to be self-evident: that all men are created equal."
I have a dream that one day on the red hills of Georgia the sons of former slaves and the sons of former slaveowners will be able to sit down together at a table of brotherhood.
I have a dream that one day even the state of Mississippi, a desert state, sweltering with the heat of injustice and oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice.
I have a dream that my four children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.
I have a dream today.
I have a dream that one day the state of Alabama, whose governor's lips are presently dripping with the words of interposition and nullification, will be transformed into a situation where little black boys and black girls will be able to join hands with little white boys and white girls and walk together as sisters and brothers.
I have a dream today.
I have a dream that one day every valley shall be exalted, every hill and mountain shall be made low, the rough places will be made plain, and the crooked places will be made straight, and the glory of the Lord shall be revealed, and all flesh shall see it together.
This is our hope. This is the faith with which I return to the South. With this faith we will be able to hew out of the mountain of despair a stone of hope. With this faith we will be able to transform the jangling discords of our nation into a beautiful symphony of brotherhood. With this faith we will be able to work together, to pray together, to struggle together, to go to jail together, to stand up for freedom together, knowing that we will be free one day.
This will be the day when all of God's children will be able to sing with a new meaning, "My country, 'tis of thee, sweet land of liberty, of thee I sing. Land where my fathers died, land of the pilgrim's pride, from every mountainside, let freedom ring."
And if America is to be a great nation, this must become true. So let freedom ring from the prodigious hilltops of New Hampshire. Let freedom ring from the mighty mountains of New York. Let freedom ring from the heightening Alleghenies of Pennsylvania!
Let freedom ring from the snowcapped Rockies of Colorado!
Let freedom ring from the curvaceous peaks of California!
But not only that; let freedom ring from Stone Mountain of Georgia!
Let freedom ring from Lookout Mountain of Tennessee!
Let freedom ring from every hill and every molehill of Mississippi.
From every mountainside, let freedom ring.
When we let freedom ring, when we let it ring from every village and every hamlet, from every state and every city, we will be able to speed up that day when all of God's children, black men and white men, Jews and Gentiles, Protestants and Catholics, will be able to join hands and sing in the words of the old Negro spiritual, "Free at last! free at last! thank God Almighty, we are free at last!"