quinta-feira, 16 de abril de 2009

Colaboração com RB

Meu artigo de opinião do mês de Abril, no Semanário da Região Bairradina:
"Dizia-me há dias um vereador de um importante Município do Norte do país que o Povo, quando vota, não é burro: gostemos ou não do seu sentido de voto, existe sempre uma justificação para a sua escolha.
Há mais de 30 anos que em Anadia o poder autárquico, ao nível da Câmara Municipal, reside em exclusivo nos braços do PSD, com amplas maiorias absolutas. Não obstante, os problemas com os quais Anadia se depara são os mesmos: inexistente planeamento urbanístico, má qualidade ambiental, fuga de população jovem para concelhos vizinhos, tecido empresarial de reduzida amplitude e não infra-estruturado, deficitária rede viária, absurda taxa de cobertura de saneamento, desertificação da parte serrana, ausência de sustentada política cultural e desportiva.
Os eleitores, por nove vezes, entenderam capacitar os candidatos a autarcas das listas do PSD para reger os destinos de Anadia, originando executivos monopartidários com modus operandi muito próximos, num estilo musculado frequente em muitas maiorias absolutas, governando sem acolhimento de ideias e projectos apresentados pelos partidos da Oposição. Oposição cujo principal partido, há vinte anos, é o Partido Socialista.
Litério Marques é muitas vezes retratado como sendo um autarca autista, que governa de forma isolada, uno com o seu pensamento, agora acossado pelo próprio partido, dividido numa guerra fratricida sem quartel, com uma comissão política concelhia e federativa de candeias às avessas e com um órgão nacional a assobiar para o lado, com receio dos prejuízos eleitorais que possam existir. Um Presidente que não é confrontado com os inúmeros problemas que se fazem sentir no concelho, excluindo na Assembleia Municipal, órgão liderado pelo seu adversário interno e controlado pelo seu partido.
Disse-o já, e repito, a fase é histórica para que os partidos da Oposição, Partido Socialista à cabeça, pudessem conseguir um resultado histórico; temo estar a utilizar a forma verbal no tempo correcto, visto temer que o mesmo não se concretize pela positiva com a amplitude desejada.
Que se espera da Oposição? Os eleitores estão fartos do denominado “bota-abaixo”, através do qual muitos partidos operam, limitando-se a criticar, nunca apresentando projectos alternativos, modelos mais vantajosos, propostas construtivas.
Os vendedores de ilusões, “vendilhões do templo”, que aparecem com discursos elaborados povoados com meia dúzia de frases sonoras, com imagens públicas impolutas mas sem conteúdo, com mensagens vazias, sem “substrato”, começam a ser descartados e, espera-se, a médio prazo serão afastados das lides políticas e partidárias.
Como dizia um artigo de opinião de há poucos anos, “a boa moeda afasta a má moeda”. Para que isso suceda é imprescindível que o envolvimento dos cidadãos seja muito superior ao actual, através de plataformas várias além dos partidos, com o associativismo, grupos de reflexão, debate de ideias; imprescindível é que os jovens e sobretudo as mulheres se consciencializem da sua importância vital para o processo democrático: debatendo a questão feminina, o desenvolvimento sustentado a nível ambiental, económico, social, cultural, pois não mais se mostra possível que a franja maior da população (não apenas pelo machismo ainda existente na sociedade portuguesa, impossibilitante de uma verdadeira e justa divisão de tarefas domésticas e repartição de proveitos do trabalho, mas também pelo desinteresse crónico das questões públicas) continue alheio ao processo decisório.
A população de Anadia tem que ser exposta à diferença: apenas somos verdadeiramente ricos e formamos uma opinião cabal quando nos deparamos com diferenças perspectivas de abordar o problema, diversos métodos de análise e decisão; expostos a uma ampla gama de projectos, ideias, se pode formar uma opinião pública esclarecida, interessada, actuante.
Que se espera da Oposição em Anadia? Que, contrariamente ao que acontece hoje, contribua para a melhoria da qualidade de vida da população: não se limitando a votar contra, mas apresentando alterações, projectando vias alternativas, de forma responsável; o melhor serviço que se pode prestar à Democracia, Poder e Oposição, é a procura de vias de entendimento, quando possíveis, acolhendo os contributos dos destinatários, dando uma efectiva valia à discussão pública dos projectos.
Os vereadores da Oposição não se podem quedar por votar contra o Orçamento e Grandes Opções do Plano, a Derrama e o IMI. Não se podem limitar a dar entrevistas dizendo que o PSD vive períodos conturbados e os eleitores não apreciam esse estado de coisas. Não se podem limitar a afirmar que ganharão eleições e que são a alternativa credível. Que a lógica impera e a racionalidade avessa à disciplina partidária se reflectirá na boca das urnas.
Os problemas estão há muito diagnosticados; é injustificado que se tenham desperdiçado os últimos quatro anos, acrescidos a muitos mais, na obtenção de uma radiografia sócio-económica ao concelho, para preparar um plano de acção. Quatro anos sem projectos apresentados, sem propostas que favoreçam o dia-a-dia, a qualidade de vida dos munícipes de Anadia, são inadmissíveis.
Os eleitores, quando votam, não são burros; algo os faz eleger um Presidente, uma maioria absoluta. E a única forma de contrariar essa tendência, que tem demasiado de ilógico, é trabalhar: diariamente, em contacto com os munícipes, ouvindo as suas necessidades, traçando os programas de acção, ideias, propostas, que têm que existir e ser apresentadas!, e fazendo perceber aos munícipes que a esperança por uma vida melhor apenas deles depende, do seu sentido de voto, do seu contributo diário.
Já é tempo de os eleitores de Anadia poderem acreditar num Partido Socialista como “o” partido de poder, capaz de constituir uma alternativa forte, adulta, verdadeira, ao hegemónico e tentacular poder do PSD. Liderado por pessoas de irrepreensível estirpe política, indivíduos públicos da mais elevada craveira que inspirem nos munícipes esperança no futuro e desejo e espírito colectivo no presente
Pois tem que ser apenas para e por eles que o Partido Socialista e seus autarcas se apresentam a votos.
Sendo diferente, a má moeda tem que ser afastada pela boa moeda!"

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