terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Entrevista Região Bairradina

"TEM QUE HAVER UMA REDIFINIÇÃO COMPLETA DO PS"
Antigo Presidente da Juventude Socialista do concelho de Anadia, André Ferreira de Oliveira impugnou recentemente as eleições à liderança daquele órgão. Depois de já o ter feito em Abril, justifica os actos com a alegada falta de envio de convocatórias para os militantes e tece duras críticas ao actual PS.
- Porque motivo impugnou as recentes eleições da JS de Anadia?
- Impugnei o acto eleitoral, como já o tinha feito em Abril. Nas duas situações as convocatórias não foram enviadas para todos os militantes, o que constitui uma falha estatutária grave. As pessoas sabem quem são os militantes e devem comunicar-lhes que as eleições existem. Ao contrário, não houve convocatória nas duas situações e, pior que isso, não convocaram pessoas que directa ou indirectamente, estiveram associadas a mim ou às funções que assumi na Juventude Socialista.
É grave o que aconteceu, mas mais grave ainda é haver um órgão que não funciona! Em mais de meio ano só há duas actividades conhecidas: uma festa feita com intuito declarado de reforçar laços internos e o espalhar de folhas de apelo ao voto nas eleições europeias que foi deveras caricato, ao ponto de ter merecido uma cobertura pouco simpática nos blogues, até de (divulgação) nacional. Temos uma Juventude Socialista que, infelizmente, neste ponto, se assemelha muito ao Partido Socialista.
- Que balanço faz da participação do PS nas últimas autárquicas?
- O Partido Socialista diminuiu a votação para a Câmara e para a Assembleia Municipal, assim como passou a ter menos deputados nas Assembleias de Freguesia, sendo que as vitórias que conseguiu resultaram mais do mérito pessoal dos cabeças de lista do que do partido em si. O mérito foi dos candidatos que até são as pessoas menos apoiadas pelo partido. Ainda no que às freguesias diz respeito, os candidatos foram escolhidos em alguns casos de forma pouco criteriosa e Arcos foi um exemplo disso mesmo: houve ali uma escolha pessoal do candidato à Câmara Municipal, tendo sido dito que era uma aposta de futuro, mas a verdade é que só conseguiu eleger dois deputados em nove, o que é uma boa imagem daqueles que foram os resultados do Partido Socialista.
- Como classifica a vitalidade do partido, no que à promoção de actividades e à própria angariação de militantes diz respeito?
- O Partido Socialista tem 67 militantes num município de 31 mil pessoas, que contabiliza 21 mil eleitores (dos quais 4 mil votam no partido). A minha leitura diz que o PS não consegue captar os votos que tem, tranformando-os depois em apoio efectivo para a mudança da lógica interna. O PS de Anadia caracteriza-se por um vazio de ideias. De facto, nos últimos 4 anos teve (apenas) duas actividades: promoveu um debate sobre a interrupção voluntária da gravidez (no qual me orgulho de ter participado e sugerido) e teve uma sessão pública com um (candidato) a eurodeputado na altura das eleições europeias.
- A actual Comissão Política Concelhia soube tirar ilações dos resultados?
- O Partido Socialista viu rejeitado o projecto que apresentou. Mostra-se claro que o projecto de médio/longo prazo que o PS diz apresentar, baseando-se numa figura central (Lino Pintado) e depois num deserto de ideias associadas a essa mesma liderança falhou! É tempo de quer o PS quer a JS repensarem de uma forma muito séria as bases de trabalho nas quais se apoiam. Devem abrir-se à discussão interna e perceber que há estratégias que funcionam e há as que (como a que continua a ter) não funcionam. Tem que haver uma redifinição completa do PS.
- Essa redifinição completa passa por si?
- Passa por acolher os contributos de todos os simpatizantes e militantes. Passa também por saber interpretar o descontentamento da população e daqueles que não querem ter uma participação activa. Na redifinição é necessário perceber que tipo de município e de partido se quer. No meu caso, quando tiver que assumir as minhas responsabilidades fá-lo-ei.
- Se houvesse hoje eleições à liderança da concelhia do PS avançaria como candidato?
- Não, não avançaria. Antes de mais porque apenas pode ser candidato quem for militante e eu ainda não o sou. Além disso, como diz um amigo meu, "se tiveres paciência, o momento certo aparecerá". Neste momento o PS tem várias pessoas que podem assumir o lugar com capacidade para tanto. O que não deve acontecer é o que acontece agora: sempre defendi que o presidente de uma concelhia não deve assumir outro tipo de cargos e nunca dever ser vereador nem deputado da Assembleia Municipal. Não está nos meus horizontes candidatar-me nas próximas eleições, em Março de 2010; mas está nos meus horizontes contribuir para que o PS cresça no futuro, como sempre esteve. Não estou à procura de cargos e só me vou tornar militante quando achar que é o momento certo.
- E quando é que vão estar reunidas as condições para que isso aconteça?
- A minha ligação ao PS tem muitos anos: mesmo não sendo filiado no partido sempre o acompanhei de perto, até por questões familiares. Nãon defendo que uma pessoa tenha que ser militante para poder intervir; aliás, defendo que os partidos não devem depender tanto dos seus militantes, pelo contrário, devem abrir-se à sociedade civil.
- Ainda há pouco criticava o facto do PS ter pouco mais de 60 militantes em Anadia. No entanto, insiste em não se tornar militante e até diz que os partidos não devem depender tanto deles. Não se está a contradizer?
- Parece um paradoxo, todavia facilmente explicável: o que eu critico não é (apenas) o número de militantes, mas sim o facto do PS não ter aumentado a sua base de apoio! O que me indigna é que o PS tem aquele número de militantes estagnado há demasiado tempo e isso revela pouco trabalho!

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