quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ai os senhores curas apelam ao referendo?

Captei-lhe a atenção pelo título? Então passo a escrever:
Diz o Jornal de Notícias, na sua última edição, que os "Padres apelam ao referendo nas missas".
Diz mais: "Párocos disponibilizam petição para exigir consulta sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo.", sendo o "abaixo assinado...disponibilizado nas sacristias", convidando mesmo os crentes a "passar pela sacristia" no fim das missas para assinarem.
Bem...
Ponto de lado a sempiterna questão da laicicidade da República Portuguesa consagrada constitucionalmente, várias estranhezas: fazem-no agora quando o não fizeram com a questão da interrupção voluntária da gravidez (escala de valores diferente, quando o casamento vale mais do que a vida humana...), as sacristias servem agora de catapultas políticas, a Igreja católica nunca está relacionada e louva sempre.
Será que ainda não perceberam que a questão do casamento (ou outra forma de união civil equiparada) nada tem a ver com religião, com orientações políticas, com interpretações jurídicas?
Não é sério dizer que não é prioritário discutir esta questão quando o desemprego é elevado; não é, Sr. Bispo do Porto?
Nem é sério dizer que quem é a favor do referendo é homofóbico.
A igualdade e não discriminação tratam-se com seriedade; seja-se a favor ou contra.
Isso faz muita falta: tentar perceber pontos de vista divergentes; uma discussão séria é necessária, e localmente terá lugar.

3 comentários:

  1. Antes de mais, a comparação com a situação do aborto é completamente descabida. Se é uma evolução, ainda bem, se foi uma falha na altura, ainda bem que foi detectada e corrigida. Por outro lado, também discordo com a "pressão" que possa ser usada pela Igreja. Mas ainda discordo mais que isso seja assim como escrevem. Enfim... As habituais mentiras sobre a Igreja...

    Eu sou completamente a favor da igualdade entre os sexos, mas continuo a achar importante que haja "M" e "F".
    Ser mulher ou ser homem, é diferente, não é uma coisa que se iguale, no sentido de se confundir.

    Havendo a necessidade legal e social de se definir a união entre duas pessoas do mesmo sexo, tem que se começar pelos efeitos e não pelas causas. Eu explico melhor... Se não houvesse enquadramento legal e social nenhum para o casamento, união de facto, "viver junto", etc., seria fácil pensar num esquema onde coubesse tudo e de se definirem regras desde o início. O problema é exactamente este: com a história da não discriminação, poderão vir não sei quantas consequências que ninguém está a ver agora (eu não estou). Sim, estou a falar da adopção, por exemplo.
    A adopção pode ser boa ou má, depende do ponto de vista. Se, por um lado, é preferível ter dois papás ou duas mamãs que ficar no orfanato; por outro lado, também assumo que será sempre uma segunda escolha.
    Mas mais... o que significaria esse contrato entre duas pessoas do mesmo sexo? A mesma coisa que o casamento? Será que não me traria vantagens ter "casado" com um colega qualquer quando fui para a universidade? Se calhar tinha um crédito bonificado no aluguer da casa. Se calhar poderia faltar àquele exame porque o meu companheiro estava muito doentinho (tipo, com uma ressaca).

    Não sei quais são as consequências todas, mas são muitas com certeza.

    Venha lá essa discussão para aprendermos alguma coisa uns com os outros!!!

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  2. Permita-me que coloque esta questão ao Sérgio Bandeira: vamos discutir a vida privada das pessoas? Vai uma maioria referendar sobre os direitos de uma minoria?
    Creio que seja perigoso tal caminho...
    E quanto ao termo casamento a seguinte nota: se pesquisar sobre a Lex Canuleia, verá que é datada de 445 a.C, isto é: o casamento não é algo da Igreja Católica, mas sim algo que a Igreja Católica foi buscar ao Direito Romano.

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  3. Eu não disse que sou ou não a favor do referendo.
    Provavelmente a participação até será bastante reduzida, portanto...
    Por outro lado, não vejo a sociedade portuguesa com a vontade suficiente para pensar, conhecer e com uma opinião formada consciente.
    Tipicamente ganha quem fizer melhor marketing e não deve ser assim que se decidem as questões importantes duma nação.

    Também nunca vi ninguém dizer que a Igreja Católica teria inventado o Casamento, mas provavelmente o comentador terá inventado que eu disse isso.

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