quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Separação de esferas?!

É incrível a intervenção da Igreja Católica Apostólica Romana portuguesa a respeito do "casamento" (e entre aspas, pelos motivos que infra se invocam) de pessoas do mesmo sexo!
Admitindo mesmo, através da Conferência Episcopal Portuguesa, vir a apelar ao não voto nos partidos que defenderem uma solução que passe pela legalização das formas de união de pessoas do mesmo sexo, sob a forma de casamento.
Invocando que o casamento é um acto divino, só divinamente resolúvel, entre homem e mulher.
Bem, já foi um rude golpe (até Sá Carneiro o sentíu) ter sido admitido legalmente o divórcio em Portugal; agora o casamento de pessoas do mesmo sexo?! E a adopção pelos mesmos?! E a procriação medicamente assistida?!
Na intenção manifestada por José Sócrates, na apresentação da Moção que levará ao Congresso Nacional do Partido Socialista, em Espinho, a intenção está expressa; mas não existe diploma preparado, e nada garante que efectivamente optar-se-á por um modelo puro de casamento ou uma forma híbrida de união civil.
É inacreditável ver como a Igreja católica continua a assumir uma postura interventiva activa e intencional em actos de cariz puramente executivo, fora da esfera religiosa, em matérias do foro laico. O Estado Português de laico só tem o nome (veja-se o que sucede em inaugurações, independentemente do protocolo, com a assistência a doentes em unidades hospitalares, com os capelões e religiosos nas forças armadas...), mas nem isso impede a religião de, paulatinamente, ir procurando moldar as mentes dos decisores...
Nem Cavaco Silva fugiu à influência no que à nova legislação do divórcio diz respeito, chegando a clamar em uníssono com os restantes que a pobreza aumentará em Portugal por força de tal regime legal...
A função social que as diversas religiões desempenham em Portugal, com especial (por força da história de conquistas e do património, também tem que ser dito) papel para a Igreja Católica, têm que ser enaltecidos; mas tem que existir uma clara e inultrapassável separação de esferas.
Sob pena das homilias se transformarem, recuando pouco mais de três décadas, a um tempo em que o poder era a lei...

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